Os líderes da região Ásia-Pacífico convocaram nesta sexta-feira a resistência à onda protecionista que atinge toda a América, especialmente após a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.

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“As tendências protecionistas infelizmente estão se impondo no mundo”, disse o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, ao inaugurar o Fórum de Cooperação Econômico Ásia-Pacífico (Apec).

“Temos visto em recentes eleições, não só nos Estados Unidos, mas também na Grã-Bretanha” com a votação pelo Brexit, acrescentou.

“Sugiro a quem quiser promover o protecionismo ler a história econômica dos anos 1930”, disse o presidente a este fórum de 21 países, entre eles Estados Unidos, China e Japão.

Trump soube captar a ira de um eleitorado afetado pela globalização que destruiu seus empregos. Conquistou seu apoio com a promessa de proteger o emprego dos americanos diante da concorrência da mão de obra mais barata de países como a China e o México.

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Sem papas na língua, o líder republicado qualificou de terrível o acordo de livre comércio TTP, concluído em 2015 com outros 11 países pelo presidente em fim de mandato, Barack Obama, pois deve ser ratificado pelo Congresso, controlado pelos republicanos.

Obama, que passará o poder a Trump em 20 de janeiro, despediu-se nesta sexta-feira dos líderes europeus, antes de voar a Lima para se somar à reunião da Apec.

Embora ausente em Lima, Trump é o centro das preocupações dos líderes dos 21 países do fórum e que, juntos, respondem por 60% do comércio mundial.

A região Ásia-Pacífico é, até o presente, uma das grandes beneficiárias da globalização e seus líderes temem que se freie o impulso que suas economias tomaram.

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China em posição de força

O clima era sombrio na sexta-feira na cúpula da Apec, onde a portas fechadas os ministros expressavam suas preocupações diante das intenções protecionistas de Trump, disse um delegado.

Esta fonte, que pediu para ter sua identidade preservada, disse que o representante comercial dos Estados Unidos, Michael Froman, tentou se mostrar tranquilizador, ao indicar aos seus sócios que os interesses fundamentais dos Estados Unidos não mudarão brutalmente quando Trump chegar à Casa Branca.

Quase como uma ironia do destino, a eleição de Trump alçou a China à posição inesperada de único líder mundial do livre comércio.

O presidente chinês, Xi Xinping, chega a Lima com fortes cartas na manga para preencher o vácuo que Washington pode deixar.

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A China foi deliberadamente deixada de lado pelo tratado de livre comércio TTP, assinado por 12 países: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã.

Agora, “não há dúvida alguma de que se o TPP fracassar, será uma vitória política e econômica da China”, disse à AFP Brian Jackson, economista-chefe para a China da consultora IHS Global Insight.

“Está claro que a China vai trabalhar vigorosamente para assinar acordos regionais que assegurem o acesso competitivo aos mercados”, acrescentou.

“Faria, inclusive, ainda que o TTP fosse aprovado. Mas, se (o TTP) fracassa se fortalecerá sua posição de negociação porque será a alternativa”, afirmou.

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Guerra comercial

A China deveria aproveitar para redesenhar a paisagem do comércio na Ásia, ao lançar seus próprios acordos comerciais; especialmente seu projeto de Zona de Livre Comércio Ásia-Pacífico (FTAAP), que aponta a reunir os 21 países da Apec.

Promoverá também o RCEP, um projeto do tratado de livre comércio entre a ASEAN (grupo de nações do sudeste asiático), Austrália, China, Índia e outros países, mas sem os Estados Unidos.

“O projeto RCEP é uma alternativa asiática possível ao TTP”, disse Marcel Thieliant, da Capital Economics.

“Por enquanto, o que domina é a incerteza. Há mais perguntas que respostas”, disse Carlos Malamud, professor do Instituto Elcano de Madri.

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“O discurso contra o livre comércio foi de uso eleitoral interno. O que é certo é que a economia dos Estados Unidos depende em grande parte do exterior”, destacou.

“Trump está tomando consciência dos custos e riscos que teria para os trabalhadores americanos, se, por exemplo, aumenta 25% os impostos à importação de alguns produtos”, assegurou.

“Caso a guerra comercial entre os dois países, cada um tem algo a perder. O certo é que se os Estados Unidos dá as costas à América Latina, a China vai tirar proveito”, afirmou.

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