Luta, resistência e reação são palavras praticamente comuns às principais lideranças do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina em resposta à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ouvidos pela reportagem na noite desta quarta-feira, os deputados Décio Lima, Pedro Uczai e Dirceu Dresch não manifestaram qualquer surpresa com o teor da sentença e também questionaram a imparcialidade do juiz Sergio Moro à frente do processo.

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Na avaliação dos parlamentares, a repercussão da condenação não deve abalar as chances do ex-presidente na corrida presidencial em 2018. Os deputados ainda defendem que o eventual impedimento de Lula ser candidatar no ano que vem significaria uma segundo golpe à democracia.

Líder do PT na Assembleia Legislativa de SC, o deputado Dirceu Dresch diz estar confiante de que a condenação será revertida na apelação junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, para onde são encaminhados os processos de segunda instância da Justiça Federal no Sul do país.

Décio Lima, deputado federal e presidente estadual do PT

(Foto: Lúcio Bernardo Jr / Câmara dos Deputados)

“A militância já esperava. Não podemos esperar de um juiz que visivelmente age seletivamente contra nós uma decisão que fosse imparcial. O que isto nos traz? Mais indignação e também indignação ao povo brasileiro, que está acompanhando tudo isso. Que está vendo uma injustiça que vai livrar o Temer, que não prende o Aécio, solta eles todos, é seletiva. O Lula está sendo condenado porque é a síntese de quem tem capacidade de reagir a esse golpe que o Brasil está em curso. Vão tentar inviabilizar o Lula.

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Recebemos isso com indignação, mas também vamos impulsionar ainda mais o nosso processo de resiliência diante desses acontecimentos. Nenhum outro partido teria sobrevivido aos acontecimentos que o PT está vivendo. As capas de revistas, os principais veículos nacionais, a grande mídia… Mas estamos aqui, defendendo o trabalhador, o aposentado, os sem-terra. Acho que a tendência é o Lula subir nas pesquisas. Não inviabiliza (a candidatura em 2018). Que vão tentar vão, mas só inviabilizaria uma condenação em segundo grau”.

Pedro Uczai, deputado federal

(Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados)

“Nós todos nunca tivemos nenhuma ilusão da postura política comprometida, não de juiz, mas de justiceiro de Sergio Moro. Portanto, uma decisão iníqua, imoral e ilegal. Como você escreve uma sentença que não tenha prova cabal? Se você tem uma casa ou não, se tem um apartamento ou não, você tem a escritura. Isso é elementar a qualquer pessoa. Quando não se tem provas, se tem convicção. Você constrói teorias da probabilidade, inclusive buscando na literatura. Se você vê as 300 páginas lidas do Dallagnol (Deltan Dallagnol, procurador), a literatura de Sherlock Holmes ou de Umberto Eco, que é a literatura ficcional, para embasar uma teoria efetivamente, passa do limite da objetividade do direito.

Portanto, vamos reagir, resistir e denunciar. Engraçado que justamente hoje (quarta-feira), quando está na Comissão de Constituição e Justiça discutindo-se a possibilidade de que seja investigado o Michel Temer, é muita coincidência. Ele faz debate político. Um juiz que diz que poderia prender ou não, isto é discurso político. Precisa de reação e vamos reagir porque vamos lutar para que não aconteça o segundo golpe no país. Ano passado teve um, à democracia. Queremos que o povo brasileiro escolha democraticamente o seu presidente e deixem o Lula ser candidato a presidente. Se o Lula foi tão ruim como presidente, o povo não o reconduzirá. Se impedirem que o Lula seja candidato, é o segundo grande golpe à democracia”.

Dirceu Dresch, deputado estadual e líder do PT na Assembleia Legislativa

“Já conhecemos bem o Moro, já fez muitas atrocidades com nossas lideranças. Não ia deixar por menos. Faz parte de todo o plano do golpe. Escolheu um dia estratégico, no dia seguinte em que se destruiu as regras trabalhistas, e abafa também a repercussão desse fato. O lamentável é o Judiciário se prestar ao serviço de condenar alguém sem provas. Felizmente o TRF4 nos deu um pouco de esperança de que não vai condenar alguém sem provar quando não deixou condenar o Vaccari sem provas (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, absolvido em segunda instância). A maior prova é não ter prova. O Judiciário, esse grupo, vai para os livros da história como os grandes ridículos.

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A Constituição veda esse tipo de atitude. Todo brasileiro tem direito de defesa e não pode ser condenado por convicções. O PT não é contra o combate à corrupção, pelo contrário, mas não queremos ninguém condenado sem ter cometido crime. É muito clara nossa posição. Vamos continuar lutando pela democracia e pela justiça. Se não tirarem o Lula do cenário em 2018, o golpe não é completo. Inclusive, se não conseguirem tirar o Lula, temos suspeitas de que podem não deixar sequer as eleições acontecerem. Tirar o Lula do cenário já seria uma fraude de antemão. Continuamos lutando para que tenhamos eleições diretas. Não vamos tirar o Brasil do atoleiro se não houver uma figura com apoio popular. Se tirarem das pessoas o direito de votar, seria mais um grande golpe contra o povo brasileiro. Estou convencido de que o TRF4 vai corrigir essa condenação. Já deram essa demonstração”.