Grito abafado pelo medo e a vergonha, o tráfico de mulheres conquistou um espaço de discussão em Florianópolis, nos últimos dois dias. O projeto Redefinindo a Paz _ Tráfico de Mulheres, começa pela região Sul e deve ser repetir em várias outras cidades brasileiras até 2014. Coordenado pela Associação Mulheres pela Paz , o evento contou com a participação de lideranças catarinenses, autoridades e deputados que reconheceram esta realidade nas cidades do Estado.
Continua depois da publicidade
As discussões pelo país serão reunidas em um livro e um DVD para a conscientização sobre o tema.
Entre os relatos do encontro, o da coordenadora do Centro de Referência das Mulheres de Dionísio Cerqueira Alice Follmann, reforçou a dificuldade em tratar do assunto. Na cidade que faz fronteira com a Argentina, o tráfico de pessoas é comum. Jovens da área rural são atraídos para a cidade com trabalhos _ facilmente identificados como prostituição _ em motéis e no setor de transporte rodoviário. Além disso, adolescentes são seduzidos com propostas de trabalho em São Paulo e, em pouco tempo, o padrão de vida da família melhora muito.
_ O tráfico de pessoas existe sim, é um trabalho sutil, mas ninguém quer se envolver _ diz Alice.
Continua depois da publicidade
O delegado da Polícia Federal Ildo Rosa explicou que não há um órgão específico para estes casos, por isso não se tem dimensão da realidade no Estado. Mesmo assim ele diz não ter dúvidas de que Santa Catarina é um polo que recebe e exporta mulheres traficadas. De acordo com a PF, o tráfico humano movimenta 32 bilhões de dólares por ano no mundo e o Brasil tem quase 13 milhões de pessoas vítimas do trabalho escravo.
_ É um efeito de mão dupla. Nosso momento é mais atrativo trazer pessoas principalmente da Argentina e do Paraguai, atraídos pela proposta financeira daqui _ explica o delegado.
A presidente da Associação Mulheres Pela Paz, Clara Charf, de 87 anos, foi um dos destaques do evento na Capital. Ela levantou a importância de não deixar o assunto cair no esquecimento:
Continua depois da publicidade
_ Não consigo ficar em casa de braço cruzados. Eu ainda posso falar e me mover e não consigo deixar de fazer isso. Quero contribuir para melhorar a vida de outro ser humano.