Uma reportagem do jornal norte-americano The New York Times publicada nesta quinta-feira classificou a floresta tropical como “terra sem lei” e apontou que os registros de desmatamento na Amazônia dispararam no primeiro ano do governo Bolsonaro.

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A reportagem mostra números como o de 3,7 mil quilômetros quadrados destruídos na Amazônia e aponta preocupações de ambientalistas e de defensores da causa como a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva sobre a redução de agentes de fiscalização, os discursos do presidente contra a política ambiental a até as crises diplomáticas derivadas da devastação na Amazônia.

A promotora de Justiça Luciana Cardoso Pilati Polli, coordenador-geral do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (CME) do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), afirma que uma das missões do poder público é promover a fiscalização e políticas públicas de proteção. E que, quando isso não acontece, há reflexos em todas as áreas, como o aumento das temperaturas e a mudança no ciclo de chuvas de diferentes regiões. O que afeta meio ambiente e também a atividade econômica, como a agricultura.

– É preocupante perceber que não há continuidade dessas políticas, que a natureza e o meio ambiente não estão sendo tratados como prioridade – pontua.

A promotora defende que o modelo de desenvolvimento precisa ser pensado com base na prevenção.

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– Há uma ideia equivocada de que a proteção atrapalha o desenvolvimento econômico porque nós sempre tivemos esse modelo extrativista, mas ele não é o ideal. A proteção é essencial para o nosso desenvolvimento. A ação com a floresta tem repercussão na atividade econômica, na agricultura, e pode trazer desequilíbrio – avalia.

Preocupação ambiental e também econômica

A deputada estadual Luciane Carminatti (PT) credita o aumento das ocorrências na Amazônia ao governo Bolsonaro, que segundo ela não respeita os tratados internacionais e as construções da comunidade científica e órgãos ambientais.

– O desequilíbrio traz consequências, perdas internacionais com países se colocando contra esses problemas. No Oeste de SC, região de onde eu sou, países europeus têm contratos considerando que o Brasil é cumpridor de tratados do clima. Não é só uma preocupação ambiental, mas econômica também – defende a deputada.

Além do aspecto econômico, o desmatamento na Amazônia provoca reflexos ambientais também em Santa Catarina. Sobretudo no clima e no ciclo das chuvas, já que a floresta representa papel importante no deslocamento da umidade até a região Sul e Sudeste.

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“Mal estar é também com a reação do governo ao problema”

Adriana Ramos, coordenadora do programa de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental (ISA), organização com sede em São Paulo que há 25 anos acompanha a defesa de bens e direitos na área ambiental e que tem ações na região amazônica, também considera o quadro preocupante.

Segundo ela, ações em múltiplas frentes tornam a floresta mais vulnerável, desde o discurso que desconsidera a questão ambiental até a defesa de atividades irregulares, que acaba por acirrar conflitos na região.

A coordenadora afirma que o desmatamento acaba sem encorajado por uma perspectiva de possivelmente se beneficiar com uma regularização da área, com apropriação privada de áreas devastadas.

– A expectativa da comunidade internacional, da mídia, é: o que o governo vai fazer. E o governo achou que poderia culpar o (Leonardo) DiCaprio, as ONGs. O mal estar é também com a reação do governo ao problema. Com as dificuldades de apresentar um plano e até por paralisar o que já havia, inclusive o Fundo Amazônia – cita a professora, fazendo referência ao fundo que recebia doações internacionais para ações de proteção à floresta e classificando como preocupante as perspectivas futuras sem reversão dessas posturas.

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