Lideranças guaranis de Santa Catarina estão reunidas na aldeia M’Biguaçu, em Biguaçu, onde discutem questões relacionadas à terra, saúde, educação, estrutura da Funai. Em Santa Catarina vivem cerca de 1,2 mil guaranis, a maioria no litoral. Existem também aldeias no Oeste, mas esses em função das distâncias não estão representados.
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A roda de conversa se iniciou na manhã desta quinta-feira e se encerra na tarde desta sexta-feira, quando será apresentado um relatório dos pontos levantados nas discussões. Um dos objetivos é encaminhar o diagnóstico para gestores públicos relacionados a cada assunto. As respostas serão aguardadas para um segundo encontro, dessa vez com a participação dos índios e dos responsáveis pelas áreas.
Estão presentes 11 caciques de áreas localizadas no litoral catarinense, além de outras lideranças. Os próprios índios assumiram os custos com transporte e com alimentação. A formação da roda mostra pontos importantes da cultura guarani: a língua mãe é preservada e o hábito do cachimbo também. Ainda que não participem das conversas, crianças circulam livremente pelo local das reuniões. Dois jovens guaranis que vivem em M’Biguaçu fotografam as atividades.
Logo no começo da reunião os líderes levantaram problemas, como a falta de estrutura das escolas: só as aldeias do Morro dos Cavalos e de M’Biguaçu possuem locais adequados. Nas demais, os alunos estudam em casas muitas vezes inacabadas, sem banheiros, água encanada.
— Quando a gente pede escola, a gente está pedindo que nossas crianças aprendam a ler e escrever bem. Tem que tratar nossos filhos igual tratam o filho de que não é índio— defendeu o cacique Timóteo Oliveira, do Morro da Palha, em Tijucas.
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Para Celita Antunes, liderança feminina em Biguaçu, a terra é o maior problema para os Guarani em Santa Catarina. Áreas são reconhecidas, mas há muitos recursos na justiça. Isso cria um clima de insegurança entre os índios e existe riscos de conflitos especialmente com agricultores que também se consideram proprietários.
Celita lembra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que alterou o procedimento de demarcação de terras deixando as populações indígenas ainda mais vulneráveis. A PEC transferiu do Executivo para o Congresso Nacional a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas. Além disso, a proposta proíbe a ampliação de áreas já demarcadas.
Comunidade de Biguaçu encaminhou carta para o Papa Francisco
Em outubro do ano passado, o cacique Hyral Moreira, esteve na Itália. Advogado formado, ele acompanhou sessões do parlamento na região do Tirol do Sul e narrou um pouco da experiência vivida pelos índios em Santa Catarina. Ao saber da atenção do papa Francisco sobre a questão ambiental, teve a ideia de posteriormente encaminhar uma carta contando do impacto da PEC 215 sobre os índios e também da violência a que estão submetidos os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Para isso, contou com a ajuda de integrantes da Comissão Indigenista Missionário. Um bispo que vive no Tirol do Sul se encarregou de entregar a correspondência ao Papa, que já está com a carta em mãos:
— Precisamos chamar a atenção para os problemas que vivenciamos. A ideia de fazer levar ao Papa é por percebermos ele muito sensível as questões ambientais, e os índios estão muito vulneráveis nesse campo.
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