Para interceptar ou salvar migrantes no Mediterrâneo, a guarda-costeira líbia tem apenas quatro barcos, um deles “avariado” e os demais às vezes, sem poder sair do porto por falta de combustível.
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“Não recebemos nenhum apoio, nem do interior (do país) nem do exterior”, lamenta o general Ayub Kacem, porta-voz da marinha líbia. Explica que os barcos usados por seus homens foram “emprestados” pela Itália desde 2010.
“São velhos barcos, nem sequer concebidos para socorrer a migrantes, e seu capacidade é muito limitada”, indica o coronel Abu Ajila Abdelbari, capitão de um desses navios que, segundo ele, “se avariam habitualmente”.
A Líbia, imersa no caos desde a queda do regime de Muamar Khadafi em 2011, e tomada por lutas internas, pela insegurança e por uma grave crise econômica, acredita ter sido abandonada pela Europa para enfrentar o fluxo de migrantes que transitam por seu território.
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Segundo o general Kacem, a União Europeia – onde a tensão é enorme em torno do problema dos migrantes – “não cumpriu seus compromissos”.
“Só obtemos umas migalhas, e nenhum apoio técnico, material ou financeiro. Só promessas e palavras vãs”, assegura.
– “Fechar o mar” –
Apesar das condições difíceis, as guarda-costeira “continua cumprindo com seu dever, porque se hoje deixamos que 1.000 migrantes cheguem às costas europeias, amanhã terão outros 10.000. Essa é a razão pela qual temos que fechar o mar”.
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A 300 km do litoral líbio, a Itália, na linha de frente, tenta como pode conter as chegadas de migrantes.
A Itália fornece apoio logístico à guarda-costeira líbia através de um “centro conjunto de operações”, e lhe comunica as coordenadas dos barcos de migrantes que há que interceptar ou socorrer.
Desde o início do ano, a marinha líbia interceptou ou auxiliou mais de 7.000 migrantes.
Segundo Kacem, os traficantes aceleram agora as viagens, por medo de um fechamento das fronteiras europeias, depois que a Itália proibiu o acesso a seus portos de barcos de ONGs.
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Segundo ele, a decisão italiana permitiu “desmascarar a Europa”, onde vários países se recusaram a acolher os migrantes.
O general Kacem también acusa as ONGs de “explorar a desgraça dos migrantes para obter mais ajudas”. Desde a chegada das ONGs ao Mediterrâneo em 2014, os traficantes utilizam lanchas infláveis pneumáticas pouco caras e mal equipadas, já que não precisam mais chegar à costa italiana, como ocorria antes, segundo ele.
“Basta que cheguem aos barcos das ONGs para terminar a travessia até a Europa”, explica.
– “O Tio” –
O governo líbio de união recebeu nesta semana o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, pediu aos europeus que chegassem a um consenso sobre o problema dos migrantes e convidou a UE a uma cúpula em Tripoli em setembro.
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A Itália, antigo país colonizador, compreendeu que não bastam os acordos com as autoridades líbias, incapazes de controlar as milícias e às redes de traficantes.
Por isso, assinou acordos com as forças presentes no terreno, algo que Roma desmente oficialmente, mas que foi confirmado por fontes locais.
Um acordo assinado em julho de 2017 com as milícias em Sabratha (70 km a oeste de Tripoli), então plataforma de traficantes no oeste líbio, permitiu uma grande mudança da situação.
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Ahmed Al Dabbashi, chamado Al Ammu (“O Tio”, em árabe), um dos barões locais dos traficantes, não somente decidiu renunciar à sua atividade, mas também se tornou forte opositor ao tráfico de pessoas.
Hoje, as principais saídas se concentram entre Garabuli e Zliten, mais a leste, para onde foram os traficantes.
“A solução para o tráfico não está no mar ou na costa”, estima Kacem.
“Se a Europa quer deter o fluxo de migrantes, tem que ajudar a Líbia a vigiar sua fronteira sul (de 5.000 km de extensão) e pressionar os países de onde se originam as saídas”.
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* AFP