Terça-feira, 18h13min, Avenida Martin Luther. Na altura do número 500, próximo à antiga estação da Estrada de Ferro, um agente de trânsito acende as luzes da moto e agita os braços indicando aos motoristas a faixa exclusiva do transporte coletivo. No rádio de comunicação, informa outros guardas e também policiais militares: “corredor de ônibus da Martin Luther liberado para veículos neste momento“.
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Há cerca de dois meses essa cena foi acrescentada à rotina de quem passa pelo local. A reportagem do Santa flagrou a situação em pelo menos três oportunidades. A liberação ocorre geralmente das 18h às 19h, apenas do trecho em que o guarda indica a permissão até o fim da faixa exclusiva, próximo ao acesso à Ponte Tamarindo.
No trecho de aproximadamente 1,2 quilômetro há dois pontos de ônibus e mais um agente que controla o trânsito, no cruzamento com a Rua Carlos Rieschbieter. Mesmo com a indicação, a maior parte do fluxo ainda se concentra nas duas faixas para automóveis, mas é possível perceber que muitos aproveitam a oportunidade de transitar na terceira pista e vencer as filas.
Entre as autoridades ligadas ao trânsito da cidade há espaço para diferentes pontos de vista sobre a estratégia recente dos agentes. O chefe da Guarda de Trânsito de Blumenau, Jailson Rogério Cândido, afirma que a medida passou a ser adotada em razão do excesso de veículos na via no horário de pico.
Ele diz que a liberação não é adotada todos os dias, mas que ocorre pelo menos de dois a três dias da semana. A intenção, segundo ele, é superar o gargalo da entrada da rua Indaial, onde as filas para acessar a região da Velha dificultam a passagem de quem se desloca para a região Norte.
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– Se essa liberação impactasse no tempo de deslocamento do ônibus, nós não faríamos. Quando vem um ônibus, a prioridade é sempre dele – afirma.
Seterb nega orientação
Os horários em que o corredor é liberado são registrados em relatórios para evitar questionamentos de eventuais motoristas multados. No entanto, o presidente do Seterb, Carlos Lange, garante que não há qualquer orientação à guarda para liberar os corredores e classifica como “pontuais” as situações flagradas nos últimos dias. Ele também descarta qualquer possibilidade de adotar a medida como padrão.
O secretário de Planejamento, Juliano Gonçalves considera correta a atitude da guarda de liberar os corredores diante de situações como acidentes ou problemas pontuais no fluxo de veículos.
– Não é a regra, é a exceção. A regra é o corredor ser exclusivo para os ônibus – avalia.
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Preocupação com as consequências
A maior preocupação com a medida adotada na Avenida Martin Luther são os possíveis reflexos do compartilhamento da faixa exclusiva no tempo de deslocamento dos ônibus no horário de pico. A avaliação inicial do presidente do Seterb e do secretário de Planejamento é de que as intervenções não chegam a causar impactos nessa área. O diretor de Transportes de Blumenau, Lairto Leite, porém, vê as liberações recentes dos corredores com “estranheza e surpresa” e acredita que a medida pode contribuir para alguns atrasos nos itinerários.
– O transporte coletivo sempre acaba tendo algum prejuízo quando você coloca carros na mesma faixa. Não entendemos como positivo e já temos dados suficientes para não ter que reavaliar isso – defende.
Outros usos para as faixas
Implantados a partir de 2011, os corredores de Blumenau tentam dar mais rapidez no deslocamento de ônibus. Nesses cinco anos, o espaço destinado ao transporte coletivo já foi alvo de outras discussões. Em 2012, um projeto de lei autorizou os ônibus da Apae a circularem na faixa exclusiva. Em 2014, um projeto que pretendia dar a mesma permissão aos táxis foi arquivado na Câmara de Vereadores. O uso das faixas exclusivas por ciclistas também divide opiniões na cidade.
Jeferson Luiz Tomaz, 17 anos, passa com frequência pela Avenida Martin Luther de ônibus nos horários de pico. Para ele, o uso da faixa exclusiva por carros nos horários autorizados pelos guardas não interferiu no tempo de deslocamento dos ônibus. Douglas da Silva, 20, também afirma que, por ocorrer em um trecho curto, a liberação não chega a atrapalhar o fluxo do transporte coletivo.
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Mais risco para pedestres e ciclistas
John Cléber dos Santos, 22, sai do trabalho sempre por volta das 18h e percebe os congestionamentos que se formam ao longo da Avenida Martin Luther. Na avaliação dele, a maior parte dos motoristas não sabe da liberação e, por isso, a medida ainda não trouxe muitas mudanças no fluxo de veículos. John acredita que para surtir o efeito desejado, a liberação deveria envolver o corredor desde o início da avenida e não apenas no trecho em que vem sendo feita.
Maicon Ribeiro usa diariamente a Avenida Martin Luther como rota para casa e confirma que o uso do corredor no trecho permitido deu mais vazão aos automóveis. No entanto, ele alerta para eventuais perigos que a mudança pode trazer:
– É preciso ter atenção porque, ao pegar o corredor, muitos motoristas aproveitam para acelerar mais, exagerar na velocidade. E com três faixas para automóveis há mais risco para pedestres e ciclistas que também utilizam a via – pondera.
Fique atento
Transitar pelo corredor de ônibus só é permitido quando os guardas de trânsito indicam a possibilidade, o que só tem ocorrido em parte da Avenida Martin Luther. Em outros casos, usar a faixa exclusiva do transporte coletivo pode render multa entre R$ 127 (cinco pontos na CNH) e R$ 191 (sete pontos).
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