Como é ser uma pessoa LGBTI em Santa Catarina? O dia 28 de junho é considerado o Dia do Orgulho LGBTI: embora, neste ano, em função da pandemia de coronavírus, a data não vá ser comemorada com marchas e desfiles, o momento ainda é de celebrar os avanços conquistados ao longo dos anos por essa comunidade – e, ao mesmo tempo, refletir sobre tudo o que ainda precisa mudar; tanto na estrutura da sociedade quanto na mentalidade das pessoas.

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A seguir, você confere relatos de pessoas LGBTI de diversas cidades de Santa Catarina. Veja o que elas têm a dizer sobre as dificuldades que enfrentam rotineiramente, suas conquistas, iniciativas e projetos.

Hóttmar Loch – Diretor Geral e Cofundador da plataforma Nohs Somos

Hóttmar é um dos fundadores da plataforma Nohs Somos, que, desde 2018, busca combater o preconceito velado e promover uma maior inclusão da comunidade LGBTI nos espaços urbanos de Florianópolis.

– Tirando uma ou outra exceção, nenhum estabelecimento se diz homofóbico, machista, preconceituoso. Mas, quando acontece algum caso, os estabelecimentos não sabem ajudar; e muitas vezes acabam consentindo com o que acontece, tratando vítima e agressor da mesma maneira – ele explica. – Então decidimos criar essa plataforma que linka os casos individuais de cada pessoa, para criar um cenário plural e avaliar se os estabelecimentos são de fato amigáveis ao publico LGBTI ou não; e cobrá-los, também.

– Hoje temos 30 pessoas que trabalham diretamente no projeto, e mais de 200 envolvidas – Hóttmar prossegue. – Nosso propósito é proporcionar bem-estar para a população LGBTI no meio urbano e ajudar as empresas a melhorar sua gestão inclusiva. Temos um MVP rodando; e, em agosto, vamos lançar a versão oficial da plataforma, que foi adiada depois do início da pandemia de coronavírus. No final do ano faremos o lançamento do aplicativo, que vai trazer várias outras funcionalidades.

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Hóttmar Loch:
Hóttmar Loch: “Quando se diz ‘Florianópolis é uma cidade amigável para a comunidade LGBTI’, eu pergunto: para quem?” (Foto: Hóttmar Loch)

“No movimento LGBTI sempre há uma evidenciação muito grande da letra ‘G’ – em um país machista, isso se reflete também na comunidade LGBTI. Um homem gay branco é muito mais aceito que uma pessoa trans, uma travesti, uma mulher lésbica negra, por exemplo. As travestis e transexuais, principalmente pretas, sempre estiveram à frente das lutas do movimento LGBTI; e onde nós estamos acostumados a ver travestis e transexuais? Nós vemos transexuais ocupando postos de trabalho, por exemplo, vemos travestis circulando pela cidade durante o dia? Quando se diz ‘Florianópolis é uma cidade amigável para a comunidade LGBTI’, eu pergunto: para quem? Para qual letra?”

“Eu acho que a informação é o caminho para tudo – e isso passa por políticas públicas, por educação nas escolas… Eu acredito muito em comunicação não-violenta. Acho que a comunicação violenta foi importante sim, para chegarmos onde estamos agora; e eu acho que existem palcos em que a comunicação violenta ainda é importante. Mas também acho que a comunicação não-violenta é importante para que possamos ter uma escuta ativa, ser de fato ouvidos. E, claro, em relação ao meio urbano, acho que é importantíssimo transformar os espaços e estabelecimentos em locais amigáveis à comunidade LGBTI.”

“Quando falamos de diversidade, temos que entender que todos fazemos parte dela. Diversidade não é ‘os outros’, é ‘a gente’: cada um se encaixa nessa diversidade de alguma maneira. Quando eu aceito a diversidade, eu me aceito, e eu aceito o outro.”

Dayana Pinto – Professora

Janaine Rambo – Educadora social

Juntas, Dayana e Janaine mantém, desde 2015, a página Arquivos Feministas – inicialmente no Facebook (onde contam com mais de 490 mil curtidas), e atualmente também no Instagram (onde têm 300 mil seguidores).

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– A gente sempre gosta de trazer para a página a pluralidade das nossas identidades: o que eu vivo enquanto mulher lésbica e negra é diferente do que a Jana vive enquanto mulher lésbica e branca – relata Dayana. – A lesbofobia que me atinge é encharcada de racismo, e vice-versa.

Janaine Rambo e Dayana Pinto:
Janaine Rambo e Dayana Pinto: “Nem sempre tivemos apoio das nossas famílias: quando se é LGBTI tudo acaba sendo mais difícil, e não foi diferente com a gente” (Foto: Diorgenes Pandini)

“Nem sempre tivemos apoio das nossas famílias: quando se é LGBTI tudo acaba sendo mais difícil, e não foi diferente com a gente. As pessoas não se sentem preparadas para lidar com as diferenças, e isso é resultado da falta de informação e da existência de uma cultura que perpetua preconceitos. Hoje, se nos aceitam, é porque tivemos que ser pacientes e educá-los pra nos enxergar como pessoas ‘normais’; mas ter que entender o tempo dos outros pra que VOCÊ possa ser feliz gera muito desgaste emocional.”

“O preconceito sofrido por nós devido à homossexualidade é diferente do que homens gays sofrem. Mulheres lésbicas normalmente têm seus relacionamentos desmoralizados e deslegitimados, porque as pessoas insistem em um papel masculino de dominância na relação – então tentam nos diminuir, dizer que não vai durar, e muitas vezes objetificar a relação; entre outras violências, inclusive físicas.”

“Compreendemos que esse é um momento de retrocessos – não só para LGBTIs, mas para todas as minorias. Sentimos que as diferenças estão sendo muito atacadas; estamos com medo de regredir nas nossas conquistas, medo da violência. As pessoas parecem se sentir no direito de nos condenar. Deixamos de andar de mãos dadas para não correr riscos, deixamos de demonstrar afeto. São pequenos medos sendo naturalizados, quando deveriam ser eliminados.”

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Lirous K’yo Fonseca Ávila – Assistente social, ativista e DJ

Lirous é um dos principais nomes do movimento LGBTI de Florianópolis: mulher, trans, ela começou sua transição no final dos anos 1990 e passou a morar em Florianópolis no início dos anos 2000, quando procurava se afastar de uma situação de violência que vivia em sua cidade natal, no Rio Grande do Sul. Começou a se engajar no movimento social a partir de 2003, e a partir de 2010 passou a fazer parte da ADEH (Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade); que fornece acolhimento jurídico, social e psicológico majoritariamente a travestis e transexuais, mas também à comunidade LGB e a mulheres cis vítimas de violência doméstica.

Lirous (@lirouskyo) também é DJ; e por meio de seu “artivismo” – como ela chama, juntando as palavras “arte” e “ativismo” – procura apresentar músicas que contenham mensagens de combate ao racismo, ao sexismo, à LGBTfobia, à gordofobia. Atualmente ela também trabalha na criação de uma produtora de festas e eventos voltada à contratação de pessoas que são LGBTI e deficientes físicas, a Altar Produções. Por meio da plataforma Apoia.se, Lirous divulga seus trabalhos e projetos de apoio à comunidade LGBTI, para arrecadar fundos que ajudem na manutenção desses serviços.

Lirous também é DJ; e por meio de seu
Lirous também é DJ; e por meio de seu “artivismo” procura apresentar músicas que contenham mensagens de combate à LGBTfobia (Foto: Lirous)

“Eu venho de uma família extremamente católica, e isso fez com que eu tivesse diversos problemas: o principal deles é que eu não tinha entendimento do que podia estar acontecendo comigo. Eu sabia que havia algo diferente, mas não sabia o que era. Era década de 1990; não tinha celular, internet. Quando era muito ligada à religião, eu sofri muitas violências que aceitei de cabeça baixa, porque achava que era Deus me castigando por eu ser diferente, por eu não me enquadrar naquilo que Ele esperava de mim. Meu envolvimento com o movimento LGBT se dá no momento em que eu percebo que não gostaria que outras pessoas passassem por tudo que eu passei.”

“Em 2016, nós fizemos uma ação para levar trans e travestis para uma sessão de cinema, para ver A Garota Dinamarquesa – e houve toda uma polêmica, porque o cinema não queria que fôssemos. A equipe de seguranças do shopping inteira estava lá quando chegamos; não sei o que eles pensaram que íamos fazer. De dez em dez minutos passava um lanterninha, com aquela luz na nossa cara, verificando o que estávamos fazendo. Eu conto isso para ilustrar como ainda é difícil para a população trans e travesti ocupar os espaços do meio social. Há muito tempo eu ouvi uma pessoa dizer que gostava do tempo em que travestis e transexuais não tinham direitos, porque naquela época ele podia ‘sair com elas sem precisar pagar’. Muitas vezes eu já fiz acolhimentos na balada, ou saí da balada para acolher. A noite é o momento em que a população LGBTI mais sofre violência.”

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“Eu sinto que em Santa Catarina a LGBTfobia é velada: as pessoas fingem que não existe. Ninguém diz que é transfóbico, mas muita gente diminui pessoas trans e travestis: para muita gente, é como se nada do que eu faço, nada do que eu aprendo, nada do que eu estudo valesse, por causa da minha identidade de gênero. Parece que nunca somos levados a sério, como se fôssemos crianças. Santa Catarina é um estado bastante elitista, classista. É difícil que haja interesse em criar propostas que favoreçam a inclusão da comunidade LGBTI no meio social.”

André Luciano Manoel – Médico

André é médico e trabalha com nutrologia e vida saudável. No Instagram, ele mantém um perfil (@drandremanoel) onde divulga informações sobre saúde e alimentação – e passou por uma situação chocante no último mês de maio:

– Publiquei uma foto minha com meu namorado no meu perfil no Instagram, que é aberto, e, em 48 horas, perdi 400 seguidores – ele conta. – Foi minha foto com maior alcance até hoje, mas eu perdi todos esses seguidores em tão pouco tempo. Não pode ter sido uma mera coincidência, né?

André Luciano Manoel:
André Luciano Manoel: “O meio médico ainda é muito machista e hetenormativista, especialmente nos hospitais” (Foto: André Luciano Manoel)

“Eu me assumi para minha família no começo da faculdade, com 17, 18 anos. A fase de aceitação inicial foi bem complicada, mas hoje tenho uma relação muito boa com toda a minha família. Durante a gradução, e em todos os lugares onde já trabalhei, todo mundo sempre soube, e sabe, da minha orientação sexual. Nunca tentei esconder de ninguém. Mas o meio médico ainda é muito machista e hetenormativista, especialmente nos hospitais. É muito difícil ver um médico gay em uma posição de liderança, chefiando uma equipe, por exemplo. Muita gente se surpreende quando eu conto que também atendo em emergência, atendendo pessoas que se machucaram em acidentes graves, entubando pacientes de covid-19… E eu sinto que essa surpresa também tem a ver com a questão da sexualidade.”

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“É uma coisa mais disfarçada: piadinhas, aquela coisa de chamar de ‘viado’ o médico que fez uma burrada… São coisas que a gente tem que engolir todo dia. Também já ouvi relatos de amigos meus de pacientes que se recusaram a ser atendidos por um médico que perceberam que era gay.”

“Eu sou um homem gay privilegiado: tenho acesso a muito além do básico, até pela minha questão profissional. Mas os LGBTIs que estão em situação de vulnerabilidade social, a população transexual, por exemplo, até mesmo as mulheres lésbicas, sofrem mais preconceito que eu. A LGBTfobia não atinge a todos da mesma forma.”

Bruno Cunha – Vereador

Advogado e também professor universitário, com especialização em Direito Público e foco principalmente na área de políticas públicas em defesa dos animais, Bruno Cunha foi um dos vereadores mais votados da cidade de Blumenau quando foi eleito, e atuou como Presidente da Câmara durante seu mandato.

Bruno Cunha:
Bruno Cunha: “Eu acho que ninguém deve estar ou deixar de estar em nenhum lugar por seu gênero e sua sexualidade” (Foto: Lucas Prudêncio/CMB/Divulgação)

“Eu descobri sobre minha orientação sexual ainda na infância, mas por muito tempo eu estranhava, achava que tinha algo de muito errado comigo. Acho que por um tempo a gente vai se enganando, sabe? E isso também foi há vinte anos – acho que o debate hoje é muito mais amplo. Naquela época se falava menos disso. Meu processo de aceitação aconteceu mesmo só quando eu tinha por volta de vinte anos.”

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“Eu acho que no fundo a família sempre acaba desconfiando, mesmo que não diga nada. Minha família sempre respeitou minha individualidade, me aceitou, me acolheu. Eu acho que o choque no momento de ‘assumir’ para a família vem um pouco por um sentimento de proteção: saber que a vida é mais difícil para quem é homossexual causa uma grande preocupação nos familiares.”

“O meu discurso e minha defesa são pelo respeito: eu acho que ninguém deve estar ou deixar de estar em nenhum lugar por seu gênero e sua sexualidade; e sim pela competência e pelo caráter que tem. Claro que algumas pessoas tentam usar isso contra mim, usar preconceitos contra mim; mas eu sempre tento mostrar para as pessoas que, na função pública, o que deve ser analisado é meu trabalho, e não aspectos da minha vida pessoal. Nenhuma característica da nossa vida privada deve ser usada para limitar nosso crescimento. Temos que construir um mundo mais diverso, mais plural, mais respeitoso.”

Mariana Franco – Deputada Estadual Suplente

Mulher trans, Mariana Franco conquistou 2.303 votos na eleição de 2018 e atualmente é a 14º suplente como deputada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Foi no início da adolescência que Mariana percebeu que a compreensão que ela tinha si não era apenas uma questão de orientação sexual e, sim, de identidade de gênero.

– Minha candidatura em 2018 foi um convite do partido e eu não sabia, à época, de outras pessoas trans que eram candidatas naquele ano. Comigo foi algo conversado, não foi uma ação pensando em eleger era mais no sentido de dar visibilidade de que mais pessoas trans podem participar do mundo da política. – confessa Mariana. – Fico muito feliz em incentivar as pessoas trans a participarem do processo eleitoral nos próximos anos. Pois, eu, particularmente, acredito que não basta você apoiar a luta LGBTI, você tem que ser para compreender e poder legislar através de vivências sólidas.

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Mariana Franco:
Mariana Franco: “Somos o país mais violento do mundo para pessoas LGBTIs, e a sociedade entra em contradição por conta dos próprios preconceitos” (Foto: Mariana Franco)

“[Ser LGBTI] no país todo é um processo bem dificultoso porque você tá enfrentando a sociedade diariamente, você tá mostrando sua vivência mesmo que ainda exista uma condenação muito grande da sociedade. Porque eles colocam como se vivêssemos um estilo de vida muito diferente dos outros e esquecem que LGBTIs pagam impostos, vão à igreja, LGBTIs têm vida comum, né?”

“Somos o país mais violento do mundo para pessoas LGBTs, e a sociedade entra em contradição por conta dos próprios preconceitos. Pois quando falamos da violência contra LGBTs outras pessoas dizem ‘ah, mas vocês querem privilégios’, mas a pauta da violência é uma pauta de todos. Pessoas pedem mais segurança, direito de ir e vir e algumas pessoas não conseguem compreender isso.”

“O mercado de trabalho aqui do Brasil: 90% da população trans trabalha como profissional do sexo. E a partir desse momento, vemos a sociedade julgando as mulheres trans que fazem prostituição. Mas, em contrapartida, quando são criados mecanismos para garantir vagas de empregos para essas pessoas trans a sociedade em geral acaba ficando horrorizada. É o preconceito mesmo, latente, direcionado à população LGBTI.”

“Ano retrasado que conseguimos direito no STF para empresas não demitirem pessoas LGBTI+ por conta da orientação sexual ou identidade de gênero. Eu lembro que a 10, 15 anos atrás, por exemplo, pessoas LGBTI+ tinham que apresentar exame de sangue para mostrar que não tinha vírus HIV. Hoje em dia, que conseguimos por exemplo a doação de sangue, são coisas que precisamos lutar, conquistar e conscientizar a sociedade. Por exemplo, muitas pessoas héteros cis não sabiam que pessoas LGBT+ não podiam doar sangue, você via a cara de espanto. Por que ainda tem esse pensamento que pessoas LGBT são soropositivos, pois esse tipo de pensamento foi criado na década de 1980 algo que vive até hoje. Mesmo com os números apresentados que são pessoas cis, acima de 40 anos que representam o maior número de pessoas com HIV no Brasil.”

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“Três, quatro anos atrás participei de um congresso sul de travestis e transexuais, com pessoas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Nesse encontro deveríamos estar com aproximadamente 150 pessoas trans, tá? Dessas 150, 50 ou 60 já foram assassinadas… E eu estou contando uma coisa de três anos atrás.”

Camila Gabriela – Cabeleireira e barbeira

Filhos de cabeleireiras, os joinvilenses Camila e Kelvin observavam desde pequenos a destreza das mãos das mães durante os cortes de cabelo nos salões de beleza da cidade e sabiam que lidar com tesouras, máquinas de cortar cabelo e navalhas era um dos caminhos que se apresentava à frente deles. Foi então que Camila Gabriela, mulher bi, e Kelvin Guiesel, homem hétero cis, desenvolveram a Barba&Co.

– Queríamos um lugar com mais liberdade, fugindo dos padrões das barbearias tradicionais feitas pensando em homens héteros. Um lugar onde todos possam ser o que quiserem e serem respeitados por isso – comenta Kelvin.

A Barba&Co foi fundada em janeiro deste ano, em Joinville, e tem como finalidade oferecer à comunidade LGBTQI+ um espaço que desmonte o arquétipo de barbearias “masculinizadas” e salões de beleza “feminilizados”.

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– Posso afirmar com muita infelicidade que esses espaços são limitados para nós [LGBTI] — relata Camila. – O desconforto com certeza é algo que ainda sentimos por não ter abertura para falar com as pessoas sobre determinados assuntos ou sermos nós mesmos. Olhares de julgamento e comentários homofóbicos sempre ocorrem. Como trabalho muito tempo nessa área já vi muita discriminação e isso deu mais força e vontade para desenvolver essa nova face da barbearia e poder abraçar ainda mais essa causa – finaliza.

Camila Gabriela e Kelvin Guiesel criaram a Barba&Co, com o objetivo de oferecer à comunidade LGBTI um espaço que desmonte o arquétipo de barbearias “masculinizadas” e salões de beleza “feminilizados”
Camila Gabriela e Kelvin Guiesel criaram a Barba&Co, com o objetivo de oferecer à comunidade LGBTI um espaço que desmonte o arquétipo de barbearias “masculinizadas” e salões de beleza “feminilizados” (Foto: Camila Gabriela e Kelvin Guiesel)

“Nossa ideia era criar uma barbearia que abrace a comunidade LGBTI e que, com o passar do tempo, seja também um centro cultural, com vários tipos de serviços, exposições e eventos.” (Kelvin Guiesel)

“Desde início tive o apoio do público e amigos LGBTI. Sendo do meio, com a experiência e dinâmica da barbearia conseguimos fidelizar e criar nossa marca como um sucesso. O dia a dia na barbearia nos traz muitos desafios, estar à frente como uma mulher barbeira e bissexual me dá a responsabilidade e força para enfrentar e ir além.” (Camila Gabriela)

“Apesar de morar numa cidade ainda muito conservadora, eu me sinto privilegiada por estar rodeada de pessoas que me apoiam e me enxergam do jeito que eu sou. Estaria mentindo se contasse aqui que nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Sim! Sofri e ainda sofro. Pela orientação sexual e por ser mulher e estar à frente de uma profissão que até uns anos atrás era só para homens.” (Camila Gabriela)

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“Bem, eu acredito que hoje, a comunidade LGBTI de SC precisa voltar os olhos para a letra T da nossa tão amada sigla. Nós gays, lésbicas e bissexuais viemos fazendo progresso em sociedade há algum tempo, e sim, ainda temos muito mais espaços para conquistar nesse mundo. Mas infelizmente, enquanto nós nos preocupamos apenas com a nossa aceitação, seja em relação a família, ou sociedade, pessoas transsexuais vem sendo assassinadas e discriminalizadas por todas pessoas que as cercam. O resultado disso, são homens e mulheres trans, vivendo em situação de rua, tendo apenas a prostituição como forma de mantimento, como vemos tão claramente nas ruas das nossas cidades. Pessoas trans precisam de visibilidade! Respeito é o mínimo que podemos dar a eles, precisamos admirar e dar todo o suporte necessário a esse grupo que é tão abalado pela intolerância. Para a comunidade LGBTI precisamos de visibilidade e inclusão. Estamos tendo uma certa visibilidade hoje por muitos meios de comunicação sobre o mês do orgulho, por exemplo. Mas os outros 11 meses do ano? Somos esquecidos. Nós precisamos estar em todos os lugares. O mundo precisa ver mais e ouvir mais da gente.” (Camila Gabriela)