Parecia só um dia comum na vida da dona de casa Rute da Silva Reis, 51 anos. Ela pagou contas e passou na verdureira. Quando chegava em casa, se assustou com policiais militares e o marido atrás dela. Nem de longe passou pela cabeça de Rute que, naquele dia, receberia notícias da filha, entregue recém-nascida, enrolada em uma fraldinha após ser amamentada. Bary Livny pode ser a filha que Rute não viu crescer. A notícia chegou segunda-feira.

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Diário Catarinense – Como foi receber a notícia?

Rute da Silva Reis – Foi muita emoção, estou abaixo de calmante, não durmo à noite. Eles me chamaram num canto e disseram que tinham encontrado a minha filha. Não consegui acreditar, fiquei desesperada. Estava com meu marido e filhos em casa, que me deram toda atenção. Meu marido correu pra comprar um calmante. Agora estou ansiosa, quero ver e abraçá-la, dar o carinho que nunca pude dar.

DC – A senhora tem alguma dúvida de que ela é sua filha?

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Rute – Não. Tenho toda a certeza – ela é minha filha. Vi uma foto dela, ela é muito parecida comigo, tem o mesmo sinal que eu tenho na testa, próximo à sobrancelha. Tem também a data em que ela nasceu, no dia 27 de junho de 1987. E ela sabe que tem um irmão, com dois anos de diferença. Acredito que quem levou ela foi quem contou isso.

DC – Como foi que vocês foram separadas?

Rute – Eu tinha três filhos, estava separada quando engravidei dela, morava em Piçarras. Eu não tinha nem casa para ficar. Estava bem gorda já, quando achei uma casa para ficar em Balneário Camboriú. Pedi pra eles (donos da casa) se eu poderia ficar ali. Eu estava com meu menino de dois anos comigo. Fazia faxina na casa deles. Eles disseram que quando a menina nascesse eu teria que dar.

DC – E a senhora deu a quem a menina?

Rute – Eu não tinha condições, se tivesse pele menos uma casinha. Me levaram para um lugar em Itajaí. Quando ela nasceu, a entregaram a um casal que eu nunca vi. Levaram ela depois que dei de mamar. Fiquei em depressão depois disso. Sofro muito com isso. Depois, fiquei só mais uma semana na casa do casal e fui para casa de uma irmã, em Balneário Camboriú.

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DC – E a senhora nunca procurou por ela?

Rute – Fui em Itajaí várias vezes para ver se achava o local para onde me levaram. Não achei nada. Procurei o casal, mas também não encontrei. Procurei muitas vezes, tentei achar a casa, mas nunca soube mais nada. Quando ganhei ela, perguntei para o casal da casa onde eu trabalhava, mas eles nunca me falaram.

DC – Qual a lembrança que a senhora tem da sua filha?

Rute – Ela tinha o cabelo preto, bem gordinha, muito linda. Lembro dela mamando, com uma fraldinha enrolada e a enfermeira veio e a levou.

DC – Que nome a senhora escolheu pra ela?

Rute – Jaqueline. Achei que ela iria ficar comigo, que o casal iria deixar eu vê-la.

DC – E agora, como a senhora está?

Rute – Estou contando as horas para falar com ela.