Quantas coisas podem mudar em 20 anos? Nos Estados Unidos, o intervalo permitiu novas concepções sociais com o movimento da contracultura nas décadas de 1950 e 1960. No Brasil, foi tempo quase suficiente para a instalação e o fim de um regime militar, de 1964 a 1985. No Vale do Itajaí, as últimas duas décadas foram de democracia plena, mas também de mudanças na divisão de forças entre 12 partidos que se revezaram à frente de 55 prefeituras. Ao longo de cinco eleições municipais, alguns ganharam capital político, outros tiveram poder de fogo reduzido e algumas legendas até mudaram de nome ou deram origem a novos partidos, que reorganizaram a composição política na região.
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A polarização travada por PMDB e o antigo PPB, hoje PP, na década de 1990 foi substituída ao longo do tempo por uma pulverização que pinta a região de diversas cores e siglas. Um tabuleiro visto de forma estratégica pelos partidos e no qual as peças devem ter novos movimentos após outubro deste ano.
O desafio de repetir os números da última concorrência nas urnas
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Um dos movimentos que chama a atenção nesse intervalo de tempo é o do PT. Em 1996, o partido fez apenas uma das 55 prefeituras da região, a de Blumenau. Desde a primeira vitória de Décio Lima (PT), apenas em 2004 o partido não fez mais prefeitos do que no pleito anterior – caiu de quatro para três. Na última eleição, em 2012, venceu em 11 municípios, a maioria composta por cidades menores. A curva ascendente nos municípios de menor porte é creditada a impactos criados nas gestões de cidades maiores como Blumenau e Rio do Sul, impulsionadas pela chegada do partido à Presidência da República, com Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Para o coordenador de Mestrado em Gestão de Políticas Públicas e mestre em Ciências Sociais da Univali, Flávio Ramos, no entanto, para repetir o feito neste ano e não sofrer com o temido desgaste nacional, os candidatos petistas terão como desafio a necessidade de resgate de valores antigos do partido que, na avaliação dele, foram superados por um projeto de poder e pela dinâmica da política.
Maior partido do país e dono das maiores bancadas em Brasília e à frente da Presidência, ao menos interinamente, o PMDB lidera o ranking entre os prefeitos do Vale – a exceção foi 2000, quando ficou atrás do antigo PPB. Em 2012, os peemedebistas alcançaram 16 prefeituras, uma a menos que 2008, com destaque para Balneário Camboriú e Rio do Sul. Apesar da hegemonia nas últimas eleições, para o cientista político e professor da Univali Fernando Fernandez, o desfalque da figura de Luiz Henrique da Silveira na articulação do partido pode abrir espaço para uma diminuição do tamanho peemedebista ao final das eleições ante o crescimento do PSD, embalado por Raimundo Colombo no governo estadual.
Herdeiro do capital político do extinto PFL, que em 2000 e 2004 chegou a eleger 11 prefeitos no Vale, o PSD se organiza para a disputa da segunda eleição municipal. Na primeira, em 2012, conseguiu o comando de oito prefeituras, todas de municípios de menor proporção. Para Fernandez, o crescimento do PSD pode ser uma das surpresas da eleição deste ano, o que reduziria o tradicional bom desempenho peemedebista. Os motivos seriam a estrutura de militância, por se tratar do partido do governador, e o trabalho de articulação no interior, liderado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Gelson Merísio.
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O PDT, que em 1996 chegou a ter sete prefeituras, incluindo o hoje tucano Leonel Pavan em Balneário Camboriú, nos anos seguintes não teve mais do que duas prefeituras. Em 2012, venceu apenas em Bombinhas.
Confira a seguir evolução histórica de prefeituras conquistadas por cada partido nas últimas cinco eleições

Disputa por espaço nas cidades e reflexos nas eleições de 2018
Após duas eleições de fortalecimento, passando de dois para seis e de seis para nove prefeitos, o PSDB experimentou a diminuição de duas prefeituras em 2012, ao eleger sete mandatários. Um fenômeno a ser apontado, no entanto, é a guinada do partido pelo Litoral, ao vencer a disputa em cidades como Balneário Piçarras, Itapema e Penha. Internamente, o fenômeno é visto como reflexo das gestões de Leonel Pavan em Balneário Camboriú e do trabalho em cidades como Camboriú e Navegantes.
Para o cientista político e professor da Univali Fernando Fernandez, a polarização entre PMDB e PSD com vistas à disputa do governo do Estado em 2018 deixa os tucanos em posição mais confortável para aliança com as duas siglas nos municípios. Isso reforçaria a possibilidade de eleger mais prefeitos este ano. Na avaliação dele, o PSDB deve manter a posição consolidada em algumas prefeituras e pode ganhar corpo em caso de vitórias em cidades estratégicas como Blumenau, Itajaí e Balneário Camboriú. Nesse cenário, o partido poderia até sinalizar projeto próprio em 2018 ou seria a “cereja do bolo” para possível composição de peemedebistas ou pessedistas.
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A aposta do especialista é de que o movimento também possa fortalecer a musculatura política de partidos como PSB, que ainda não elegeu prefeitos na região, PR e DEM. No DEM, aliás, a reestruturação iniciada após 2011, quando a maioria das lideranças migrou para o PSD, pode dar um novo começo para o partido, que em 2012 elegeu apenas um prefeito: em Petrolândia.
Rival histórico do PMDB nos municípios do interior catarinense, o PP – que em 2000, quando disputava as eleições como PPB, chegou a eleger 18 prefeitos – manteve nas últimas três eleições municipais o número entre 10 e 12. Ainda que o aumento do número de partidos dificulte repetir feitos como há 16 anos, o partido deposita fichas no número maior de candidaturas neste ano como possibilidade para ir além da regularidade atual e fortalecer a sigla este ano.
Na avaliação de Fernandez, ainda que nacionalmente o PP tenha perdido musculatura, no Vale a perspectiva é que os progressistas possam ganhar algumas prefeituras pelo trabalho feito por lideranças no interior. Caso o cenário se confirme, permitiria ao partido mais força em composições ao Estado em 2018.