A natureza anda neurastênica, fazendo carrancas, caretas de trovoada, o cenho contraído em cúmulos-nimbos, a terra saudosa da água, como um beduíno no deserto.
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É o tal céu de carnegão, de que nos fala o Mané da Ilha, a carranca dos cúmulos desenhando o proverbial mau humor da próxima primavera, estação de chuvas.
Um friozim apareceu neste final de inverno, com céu azul e plenilúnios. Houve até uma lua azul. Mas logo veio o tempo incerto da pré-primavera, com dias abafados e carrancudos.
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Época de “consumiçã”, desconforto, um círculo atmosférico nada virtuoso. Nordestão papo-amarelo ou vento “súli”. Calorão e lestada. Como diziam os antigos:
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“Lestada, mar de rebojo. Três dias de chuva e nojo”.
Um tempo insalubre, com o perdão, claro, da “jeunesse dorée” e dos cavaleiros parafinados do surfe, deslizando sobre pranchas, no lombo das águas da Mole, da Brava e da Joaquina.
Tempo malsão, como deixou registrado em sua prosa magistral nosso John Steinbeck ilhéu, Othon Gama d?Eça, em Vindita Braba:
“Fazia um calor de trevoada e, na suspiração, apercebia-se o cheiro de areia quente e de folhagens secas”.
O verão ilhéu incomodava humanos e animais, como se sublinham os diálogos de “Vindita”:
“Não se assuste, que não é nada. Só carece levá o doente pra dentro de casa por mode do sereno. Isso talvez que seja do ?calori?”.
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Assim, nesse delicioso manezês, está descrito o sacrifício a que o calor submetia os manezinhos rurais. Todos gostavam muito mais do outono, época de descompressão e refrigério, tempo de pinhão e de feijoada – e, não esquecer, tainha-de-corso!
Um tempo de manhãs translúcidas, ideais para regar lembranças, instalar uma cadeira de balanço na varanda da memória – e lembrar que o nariz do Cambirela estará aberto ao livre respirar, a salvo do “carnegão” das nuvens.