– É um tapão na cara dos críticos de plantão, que não sabem valorizar a cultura popular e a música que é legitimada pelo povo. Não adianta falar mal da gente, de Luan Santana, Anitta. Fazemos parte da nova música brasileira -, provoca o vocalista do grupo Psirico, Márcio Victor.

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Quem estava cansado da febre deste verão, pelo visto, vai ter que esperar. Em 2014, a música de Carnaval vai durar, pelo menos, até as festas juninas. Contrariando o discurso de música de consumo fácil e passageiro, o hit Lepo Lepo segue resistindo e agora está no CD oficial da Copa do Mundo, apresentado pela Fifa na última terça-feira (08). A banda baiana de pagode Psirico, ainda considerada emergente eixo sul-sudeste, divide o set list com nomes consagrados do pop internacional como Shakira, Ricky Martin e Jennifer López. Os brasileiros do time são Bebel Gilberto, Alexandre Pires, Carlinhos Brown e Preta Gil.

Lepo Lepo é um arrocha, ritmo romântico genuinamente baiano que tem ganhado o país, e fala de um rapaz que, sem recursos financeiros, precisa contar com os próprios predicados para ter sorte no amor. A coreografia, entretanto, não é exatamente romântica, e para bom entendedor, simula uma relação sexual. Apesar de feita para dançar, carrega a queixa social recorrente na discografia do Psirico.

– Sempre falamos das questões do povo, da dificuldade de quem vive no morro, nas encostas, contra o de gênero, enfim. Mas tudo isso de um jeito divertido -, conta Márcio Victor.

Com 14 anos de estrada e sucesso consolidado na Bahia e no interior do país, onde os carnavais fora de época fazem sucesso, o Psirico comemora agora o sucesso nacional, a presença em programas de TV e a agenda lotada de shows.

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– Estou flutuando com tudo isso, mas é preciso dizer que é fruto de um trabalho longo e cansativo. Estamos colhendo -, comemora o cantor.

Ex-percussionista de Caetano Veloso, Marisa Monte, João Bosco, Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Timbalada, o baiano garante que o sucesso de Lepo Lepo foi um grande golpe de sorte, já que outras músicas do grupo já tiveram grande investimento em divulgação e não fizeram tanto sucesso.

Paulo Miguez, pesquisador de cultura e carnaval da Universidade Federal da Bahia (UFBA) respeitado internacionalmente por seus estudos da economia criativa, comemora a presença de Lepo Lepo na coletânea oficial da Fifa.

– É ótimo que tenha sido escolhida uma música de rua, que a Bahia sabe fazer muito bem e que caiu no gosto do povo. Além de ser sinal de reconhecimento, é uma resposta à forma como a cultura popular foi tratada em todos os protocolos de organização da Copa, com uma série de interdições que atingiram negativamente a paixão do brasileiro pelo futebol. –

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De algum modo, a presença da música no álbum também legitima uma escolha dos próprios jogadores. Em fevereiro, num jogo pela 24a rodada do Campeonato Espanhol, Neymar e Daniel Alves comemoraram com a coreografia no gol da vitória do Barcelona contra o Rayo Vallecano. A moda pegou e a dancinha já virou marca de Felipe, goleiro do Flamengo, Hulk, do Santos, além do time do Bahia, que anda aproveitando todas as oportunidades de dar um Lepo Lepo no Vitória pelo campeonato baiano.

– Já pegou e eu não tenho dúvida de que será um código nos jogos do Brasil durante a cópia -, defende Márcio Victor.