Brasil e Estados Unidos explicitaram ontem divergências em relação ao processo eleitoral na Venezuela. O chanceler brasileiro Antônio Patriota e a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Susan Rice, divergiram, lado a lado, sobre a legitimidade das eleições venezuelanas, que elegeram no último domingo, por apertada margem de votos, o chavista Nicolás Maduro.

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A situação é tensa na Venezuela desde a proclamação do resultado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no domingo. Na terça-feira, oito pessoas morreram em confrontos entre oposicionistas e apoiadores de Maduro. Ontem, o candidato oposicionista, Henrique Capriles, pediu oficialmente a recontagem dos votos. Capriles foi derrotado por 1,6 ponto de diferença.

O Brasil já havia reconhecido o resultado das eleições, inclusive com telefonema da presidente Dilma Rousseff a Nicolás Maduro. Os EUA defendem a recontagem de votos, como deseja a oposição venezuelana.

Afirmando respeitar a “soberania venezuelana”, Patriota disse ser contra recontar os votos, a não ser que seja decisão das autoridades que comandam o sistema eleitoral da Venezuela.

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– A manifestação do CNE precisa ser respeitada. É nesse sentido que os líderes sul-americanos têm se manifestado – disse Patriota.

Depois, o chanceler explicou a posição brasileira:

– É algo que está a cargo da autoridade eleitoral e das autoridades venezuelanas. Nós respeitamos a soberania venezuelana, são questões internas. A missão de acompanhamento eleitoral da Unasul se manifestou, dizendo que os resultados devem ser respeitados. Na medida em que haja decisão interna de recontagem, não teremos nada contra. Pode ser algo que contribua para consolidar os resultados.

Para legitimar

Ao seu lado, na entrevista coletiva realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, Susan Rice reafirmou a posição do governo americano: uma recontagem asseguraria um resultado aceitável para todos os venezuelanos. Rice também manifestou preocupação do governo americano com os episódios de violência que se seguiram à divulgação do resultado.

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– Sabemos que a eleição foi muito, muito apertada. E que a oposição indicou um desejo por uma auditagem completa do resultado, para assegurar que fosse aceitável por todos os venezuelanos. Pensamos que é um caminho inteligente e reforçaria a confiança no resultado para além da fronteira – disse a embaixadora na ONU.

Antes disso, o secretário de Estado americano, John Kerry, já havia dito:

– Achamos que deveria ser feita uma recontagem. Não sei se isso vai acontecer nos próximos dias.

Depois, falou sobre a eventual legitimidade do governo de Maduro:

– Se houve grandes irregularidades, vamos ter sérias interrogações sobre a viabilidade desse governo. Mas essa avaliação deve ser feita e ainda não foi.

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Ao saber dessa declaração, Maduro afirmou não se importar:

– Não nos importa seu reconhecimento. Vamos ser livres e independentes, com vocês ou sem vocês.

Judiciário diz que não há como contar manualmente

O Supremo Tribunal da Justiça (TSJ) de Venezuela anunciou ontem que não existe no país a contagem manual de votos, como solicita o opositor Henrique Capriles em relação aos resultados das eleições presidenciais que deram vitória a Nicolás Maduro, porque o sistema eleitoral é automatizado.

– Na Venezuela, desde a Constituição de 1999, foi eliminada a forma manual dos processos eleitorais. O sistema eleitoral é absolutamente sistematizado. A contagem manual não existe – disse a presidente do TSJ, Luisa Estela Morales.

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Luisa Estela afirmou que “se enganam aquelas pessoas que acreditam que essa contagem possa ser feita”, o que “incentiva que se comece uma luta de rua sem fim”.

Capriles exige a recontagem de 100% dos votos emitidos, o que implicaria a abertura de todas as urnas eletrônicas que contêm os comprovantes físicos dos votos transmitidos ao CNE.