Apaixonado por literatura, romance e poesia, Lenine me conta por telefone (um papo de 16 minutos pouco antes de embarcar para Paris onde participou como convidado de um festival) que tem um banco de dados pessoal de palavras. De lá pescou carbono – “fascinante, não é?”, diz – para intitular o novo trabalho, lançado em 30 de abril, após dois anos do último de inéditas, Triz.

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Diferente de boa parte dos artistas – adeptos da fria entrevista por e-mail – Lenine atendeu de pronto o pedido por uma entrevista e, sem frescura, cedeu o telefone de sua casa. A seguir, saborei e ouça (disponibilizamos em áudio algumas falas do cantor) o papo com este cara boa praça.

Na música Castanho (primeira do disco), o refrão diz Eu Sou em Par. Você tem um casamento longo, mais de 35 anos, o quê não é muito pregado hoje em dia. É bom ser em par?

É bom você ter alguém para dividir um caminho – independente do teu sexo. E tenho essa relação, meu núcleo familiar, que é a razão de tudo. Mas o importante é o que vem complementar essa frase: Não cheguei sozinho. Essa é a grande verdade da canção. O que eu faço é coletivo. Mas a leitura do Castanho pode ser diferente também.Quando digo em par não estou falando do casal apenas. O número par significa que não é um, não é primo, não é ímpar. Par pode ser 4, 6, 8…

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O elemento carbono já estava na sua mente para ser tema de disco?

Eu sou um colecionador de palavras. É natural que nesta coleção eu vá arquivando palavras que têm significado bacana. Carbono vem deste banco. Esse banco começa desde que eu me inspirei pela palavra, pelo romance, pela poesia, pela literatura.

Música Quede água é sobre crise hídrica:

Agora um comentário: O Universo na Cabeça do Alfinete, que coisa mais linda essa música! Ficou muito boa a parceria com a orquestra holandesa na música, do maestro Martin Fondse. Como surgiu?

É tão bom para um pai que está mostrando um filho receber um carinho desses. Obrigado. Essa parceria não é de agora – aliás é outra característica de Carbono, reafirmo no disco várias parcerias da minha vida artística. Eu já fiz alguns trabalhos com o Martin – inclusive turnê no Brasil e no exterior. Mas nós só conseguimos essa parceria por causa da da democratização do digital. Nós fizemos tudo por skype – inclusive acompanhei a gravação por ali

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Filho de Lenine, Bruno Giorgi, disponibilizou a música em sua conta no soundcloud

O disco saiu em formato digital e também no CD. Hoje você escuta música por qual meio?

Pra ser bem honesto, eu escuto no carro: ou CD ou rádio. Eu não tenho muito tempo em casa, porque estou sendo trabalhando. O espaço que me resta para ouvir está associado ao meu translado. Eu tenho um som razoável no carro, então, de 15 em 15 dias eu boto 10 discos novos no carro e ouço.

Dessas audições o que lhe chamou atenção?

Diferente do que muitos propagam por aí, eu nunca vi tanta produção bacana como agora. . Não ouso dizer nomes porque seria uma temeridade, eu teria que dizer pelo menos uns 30. Se por um lado a democratização do digital pulveriza o que você faz a ponto de ser muito dificultoso achar; por outro lado torna acessível a mecânica do fazer. Talvez pela minha exposição e pela maneira como eu conduzi minha trajetória, as pessoas depositam muita confiança em mim. Então eu recebo mensalmente 20, 30 até 40 CDs.

Exorcismo da síndrome do vira-lata:

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Você tem uma história de longa data com Florianpólis. Tem algo/alguém que você quer rever aqui em Floripa?

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É verdade que neste show você não toca alguns clássicos (tipo não teremos Paciência)?

Sim. Mas tem um momento no meio do show que eu explico sobre algumas canções que a plateia esperava ouvir e que não fazem parte do roteiro original – cito seis ou 7. E aí eu abro: vamos gritar aqui. Vocês querem ouvir ao quê? Aí tem aquela comoção. Torna aquele momento mais íntimo e quem ganha ganho no berro. ?

Quando você entrou no estúdio, você já sabia o que iria sair no disco?

Quando a gente começa, a gente acha que sabe. Mas na verdade a gente só intui. O processo é que revela. O melhor de tudo é o processo. E o que você ouve é o resultado. Ninguém vai ter acesso ao processo de fazer. E isso é o que eu carrego comigo com mais carinho.

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Processo é tudo:

Carbono tem várias sonoridades diferentos: rock, frevo, misturas…Você é um experimentador?

Sim. Muito. O melhor de tudo é o caminho. Toda vez que eu estou em um caminho e sinto que eu já percorri ele, eu arrumo outro. ?

Quando a gente ouve tua música – canções como Paciência e Simples Assim (também de Carbono), vê teu shows, você transmite muita paz. Como se chega nesse lugar tão tranquilo e em paz consigo mesmo?

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Mas você já teve este feedback?

Já. Muitas vezes. Acho engraçado porque quem vive no meu cotidiano sabe que eu não sou essa paz toda, não. Existe sim o desejo de melhorar como ser humano. E isso é diariamente. A gente tem que levar isso até ir dormir. Pra acordar de novo. É uma procura. Isso não quer dizer que você esteja no estado da paz. Mas eu procuro o tempo todo.

Agende-se

O quê : Turnê Carbono, do novo disco de Lenine

Quando: amanhã, a partir das 18h

Onde: P12, em Jurerê Internacional (Servidão José Cardoso de Oliveira, Lote 3, s/n)

Quanto: R$ 80, à venda no site Ecopass. Assinantes do DC e acompanhante têm 20% de desconto com o cartão do Clube do Assinante.

Informações: ecopass.com.br