O texto abaixo foi escrito por um leitor do Diário Catarinense, participante do concurso cultural DC da Virada. O DC propôs para os participantes que fizessem um balanço de 2012 e contassem um pouco sobre o que querem de 2013.
Continua depois da publicidade
Criança sensível, único menino numa família de quatro mulheres, e por isso mesmo muitas vezes incompreendido. Não entendia porque aos seis anos de mãos dadas com sua irmãzinha, tinha que vender água no cemitério para poder comprar margarina para passar no pão. Também não entendia por que voavam tamancos em sua direção quando fazia peraltices e nem porque tinha que cortar lenha, pra quê? Por quê? Ora, com tanta brincadeira pra fazer…
É que naquela época era assim: criança não tinha regalia, porém era ensinada a respeitar, diferentemente de hoje, quando as crianças quase não respeitam e carecem de educação. Outros tempos. Mais tarde, como todo bom adolescente, a rebeldia se instala. Indignado, gritava aos quatro ventos: por que eu fui nascer no meio de tanta mulher?
Conheci Mário Francisco Martins no ensino médio da escola técnica. Ele ficava encostado na parede do corredor com cara de bad boy observando as meninas que passavam. Um dia, passando por ele em direção à sala de aula, ele me ofereceu um pouco de doce de leite que estava comendo. Para não ser indelicada, aceitei. Ele colocou um pouco de doce em minha mão e quando – para minha surpresa – eu levei o doce à boca, ele bateu em minha mão e lambuzou meu rosto. Engraçadinho… O tempo foi passando. Num belo dia, convidei-o para ir ao cinema comigo. Ele aceitou na hora. O filme era Laranja Mecânica.
A partir daí, nos adotamos e acabamos de nos criar. Bem ou mal criados, entre acertos e desacertos, estamos juntos há 30 anos. Não pensem que foi uma eternidade. Tudo passou num piscar de olhos e nem tudo foi um mar de rosas, mesmo porque as rosas têm espinhos e a natureza também é bipolar, pois antes da tempestade vem a calmaria. Hoje, sinto essa pessoa como minha alma gêmea, meu parceiro, amigo e grande amor. Intuitivo e carinhoso, faz massagens e traz remédios antes de eu dizer que estou com dor, e segura minha mão como forma de proteção quando estou abalada física e emocionalmente durante a sessão de quimioterapia. E entre nossas boas conversas e nossos longos silêncios vamos seguindo em frente. O que mais posso querer da vida em 2013, se tenho o abraço da paz?
Continua depois da publicidade