Bruno Waick*
O sonho de infância após assistir a um documentário ainda aos nove anos tinha início às 17h50min de 28 de janeiro de 2013, quando embarquei no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, rumo a Tromso, norte da Noruega. Localizada 400 quilômetros acima da linha que divide o círculo polar ártico, a cidade de 70 mil habitantes tem o título de capital mundial das luzes do norte. Era lá que encontraria a aurora boreal.
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Foram 23 anos de espera. A ansiedade era tanta que ao longo do trajeto de mais de 20 horas, os olhos sequer piscaram no interior do avião. Vídeos, revistas, fotos, pesquisas sobre como capturar as imagens, tudo que estava relacionado à aurora boreal foi revisado. Em cada página lida ou em cada segundo de imagem dos filmes, o pensamento já me colocava frente a frente com esse que é considerado o maior espetáculo da natureza.
Na chegada, a temperatura de 10°C negativos trouxe uma nevasca que frustrou as expectativas. Mas já no segundo dia, o telefone do quarto do hotel tocou com a notícia que a possibilidade de surgimento da aurora boreal era grande. Parti para o outro lado da baía de Tromso. Quatro horas de espera sobre o gelo e quando a decisão de retornar foi tomada, surge no horizonte uma pequena luz verde, fraca, mas que me fez abrir um sorriso, ainda que não tivesse atingido meu objetivo.
Foram mais três dias de, como dizem os moradores locais, caçadas noturnas enfrentando temperaturas negativas, ventos fortes, escuridão e um silêncio absoluto que desnorteia os pensamentos de qualquer pessoa. Mal sabia que o vento gelado, que deixava pés, mãos e rosto com dores, seria meu maior aliado. Foi ele quem empurrou as nuvens e deixou um céu estrelado, limpo, pronto para fazer as lágrimas escorrerem ao avistar uma grande faixa de aurora boreal. Foi uma sensação estranha. Realizar o maior sonho de minha vida me trazia lembranças da infância, do documentário que assisti. Me fez querer ter ao lado meus avós, meus pais, meus amigos e ao mesmo tempo paralisava meus pensamentos. Petrifiquei onde estava. Uma posição corporal durante todo aquele espetáculo para ter imagens que vão me acompanhar por toda a vida.
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* Jornalista e empresário, tem 33 anos.
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