O preço do leite teve uma recuperação em fevereiro, em relação a janeiro, passando de R$ 1,16 por litro no preço padrão, para R$ 1,22, num acréscimo de 5%. Já em relação a fevereiro do ano passado, quando o preço estava em R$ 1,01 por litro, o aumento é de 21%.

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– O preço deu uma boa reagida em fevereiro e o produtor, que vinha tendo prejuízo desde setembro do ano passado, agora está conseguindo pagar a conta – disse o produtor e presidente do Conselho Paritário dos Produtores e Indústrias de Leite de Santa Catarina (Conseleite), José Carlos Araújo.

Ele espera que a partir de agora, com o início da chamada entressafra, quando ocorre uma queda de produção, os preços continuem se recuperando.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados de Santa Catarina (Sindileite), Valter Brandalise, disse que este é o maior valor da história pago em fevereiro. Ele afirmou que essa recuperação ocorreu num momento em que houve redução nas importações.

– Normalmente importamos só 3 a 4% da produção mas esse leite, vindo do Mercosul, chegou concentrado no final do ano, com importações recordes em outubro e novembro o que derrubou os preços. Houve uma melhora momentânea mas já sentimos uma pequena retração no queijo e no leite longa vida. O mercado está bem estranho mas acredito que em março o preço ficará estável ou pode até cair – explicou Brandalise. No entanto ele prevê um aumento de preços a partir de abril, quando historicamente é o menor volume de produção em Santa Catarina.

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Nos supermercados já houve um aumento de preços. Em Chapecó o preço médio do leite longa vida chegou a R$ 3,09 por litro segundo levantamento da Cesta Básica realizado pelo Curso de Ciências Econômicas da Unochapecó, em parceria com o Sindicato do Comércio da Região de Chapecó (Sicom). Isso representa um acréscimo de 10% em relação a janeiro e 27% em relação ao mesmo período do ano passado.

Outra questão que está preocupando o setor é a entrada em vigor das Instruções Normativas 76,77 e 78, do Ministério da Agricultura, que foram publicadas no final de novembro do ano passado e entram em vigor no final de maio.

Entre as mudanças estão mais exigências de qualidade para o produtor em indústria. A indústria, que antes poderia receber leite a até 10 graus centígrados vindo do campo, agora terá um limite de 7 graus.

Além disso os produtores que ultrapassarem uma média de 300 mil unidades formadores de colônias por mililitro e 500 mil células somáticas por mililitro, qué é uma medida de contaminação bacteriana, terão que ser excluídos. Quanto menores esses números, melhor a qualidade do leite.

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– A questão de contagem bacteriana é manejo, higiene e frio, é capricho. Mas atualmente cerca de 50% não atendem esses padrões. Para a indústria e o consumidor é bom pois vai ter mais qualidade no leite. Mas alguns produtores acabarão sendo excluídos – disse Brandalise.

O presidente do Conseleite, José Carlos Araújo, considera que as mudanças são positivas mas também pondera que haverá dificuldade de atendimento de alguns produtores, pelas más condições de estradas e distância.

Já a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Santa Catarina (Fetraf/SC), é contrária às normativas. De acordo com o coordenador da entidade, Alexandre Bergamin, essas medidas exigem estruturas maiores que vão excluir 15 mil famílias da produção de leite em dois a três anos. Ele citou que já houve uma redução de 70 mil famílias produtoras para 45 mil famílias nos últimos anos.

– Nós somos favoráveis à qualidade mas essas normativas têm como objetivo a exportação num modelo similar ao de integração de suínos e aves, que é de concentração de produção. Os pequenos produtores não terão como atender essas exigências e serão excluídos. Poderiam adotar um modelo para exportação e outro para o mercado interno e não exigir padrão de exportação para todo mundo – disse Bergamin.

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Ele afirmou que as normativas podem aumentar o êxodo rural pois o leite é uma das poucas rendas mensais nas propriedades.

Santa Catarina é o quarto maior produtor de leite do país, com 2,4 bilhões de litros de leite recebidos por ano pelas indústrias, de um total de mais de três bilhões de litros produzidos.