O Brasil é o quinto maior produtor de leite do mundo. Segundo o IBGE, na Pesquisa da Pecuária Municipal, o país produziu, em 2018, quase 34 bilhões de litros do produtor, o que representa 4% da produção mundial. O Estado de Santa Catarina foi responsável por 8,78% da produção nacional, ou seja, produziu quase 3 bilhões de litros de leite.
Continua depois da publicidade
De acordo com o IBGE, na Pesquisa de Produção de Ovos de Galinha – POG, Santa Catarina representou 4,58% do total nacional, que foi de 3.606.747 mil dúzias em 2018. Só o Estado foi responsável por 165.277 mil dúzias. Toda essa produção abastece o mercado interno, que, com a alta do preço das proteínas animal, intensificou o consumo de ovos.
Já o leite catarinense abastece o mercado interno e de estados vizinhos. Recentemente começou a abastecer o mercado chinês com seus derivados (queijos, manteiga e leite condensado). Em julho de 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou que a China habilitou a exportação desses produtos lácteos de 24 plantas brasileiras. Duas delas são de Santa Catarina: uma de São João do Oeste e outra de Braço do Norte.
Chegar a esses números só foi possível graças ao emprego de tecnologia e inovação em suas cadeias produtivas, seja na gestão da granja ou planta até a automação e processos antes manuais. Hoje, assim como a indústria, o produtor rural criou uma relação de urgência com soluções tecnológicas, que o ajudam a atingir níveis de qualidade e agilidade na produção.
Tecnologias e inovações na produção de ovos
Na granja de postura, por exemplo, no processo de alimentação das aves, é cada vez mais comum o uso de robôs. Configurados para abastecer cada gaiola ou alimentador com uma quantia específica de ração – previamente prescrita pelo veterinário responsável pela nutrição dos animais – essas máquinas automatizam um processo demorado e massante.
Continua depois da publicidade
Outro uso importante da tecnologia na produção de ovos é no controle da temperatura nas granjas. Um ambiente corretamente climatizado evita que um expressivo número de aves venham a morrer pelo excesso de calor ou frio. Produtores que optam pela climatização, além de perder menos aves, proporcionam melhor qualidade de vida aos animais.
Em outra ponta dessa cadeia produtiva, já no processo de qualificação dos ovos, soluções tecnológicas aprimoram técnicas já utilizadas pelos produtores, como no caso da ovoscopia. A técnica em consiste em colocar os ovos dentro de um local escuro contra uma fonte de luz para identificar ovos podres ou mesmo fora do padrão. Antigamente feito com luz de vela, hoje o processo conta com mesas especiais disponíveis no mercado. Mais recentemente a técnica ganhou aliados inovadores: a tecnologia a laser e por câmeras termográficas.

Tecnologias e inovações na produção de leite
Na produção leiteira, os avanços tecnológicos não param de se provar fundamentais. No manejo com os animais, como por exemplo no momento da ordenha, vem se intensificando o uso de robôs. Ligados 24h por dia, os robôs fazem a ordenha por demanda, ou seja, as vacas escolhem quando querem ser ordenhadas. Elas também buscam os robôs quando querem comida.
Na ordenha robotizada, o histórico de produção é registrado pelas máquinas, que ainda geram relatórios em tempo real. Além dos benefícios de cruzamento de informações e diminuição na dependência de mão de obra, conta também a qualidade de vida do animal: o uso de robôs gera menos agitação entre as vacas, o que diminui o estresse.
Continua depois da publicidade
Outro emprego de solução tecnológica que vem impactando o segmento lácteo é na análise de qualidade. Uma solução desenvolvida em Santa Catarina, por exemplo, vem atraindo cada vez mais atenção dos envolvidos na cadeia produtiva do leite, por agilizar o processo de análise de amostras e baratear seus custos. Se chama Milkspec, um equipamento desenvolvido pela empresa Bionexus de Chapecó.
O sistema faz a análise da amostra do leite cru investigando sua conformidade, composição e estabilidade. Com isso é possível saber se alguma vaca está com mastite ou se existe algum desvio nutricional no rebanho. Também possibilita selecionar amostras com maior padrão de qualidade.

De acordo com Emiliano Veiga, CEO da desenvolvedora, o principal destaque do serviço é a entrega de informações para rápida tomada de decisão.
— Quando começamos a trabalhar com os clientes eles tinham por padrão tomar decisões olhando "pelo retrovisor". Todo o processo de análise de amostras era longo e, quando eles recebiam as informações sobre a qualidade do leite, elas já estavam defasadas. Isso resultava em decisões inseguras e até incertas. Um produtor que encontra um caso de mastite grave, se ele não reagir rápido com medicação, ele pode perder o animal em questão de poucos dias. Entendemos essa deficiência no segmento e conseguimos desenvolver um sistema onde as análises ficam prontas em até um minuto e ainda são armazenadas em nuvem — explica Veiga.
Continua depois da publicidade
O sistema é usado não somente na ponta, com o produtor, mas em toda a cadeia produtiva do leite. Para o produtor rural, o serviço é utilizado para análise individual dos animais, identificando quem precisa de assistência especial e imediata. Na indústria, o sistema faz a conferência da qualidade das amostras, certificando que está recebendo a matéria-prima nos critérios estabelecidos. Quem também utiliza essa tecnologia é o consultor rural, que por meio dos resultados apresentados pelo sistema consegue implementar correções e protocolos necessários nas plantas de seus clientes.
Segundo Emiliano, cerca de 90% de seus clientes são da região sul do Brasil. Um deles é o zootecnista Cristian Bonotto, de Lajeado Grande. Bonotto é consultor rural e atua com promoção de vendas e palestras técnicas com foco em qualidade do leite. Envolvido no segmento desde 2006, Bonotto conta que antes dessa novidade, todo o processo de análise de amostras era, além de demorado, complicado.
— Antes, alguém se deslocava para pegar a coleta, trazer para a empresa, organizar junto com a transportadora e enviar para o laboratório. Aí esperava o resultado junto ao laboratório para depois repassar ao produtor o laudo com base nas respostas. Nisso ia, pelo menos, 7 a 10 dias. Para agilizar, era comum o envio de mais de uma coleta. E aí morava o perigo de se misturarem. Ou mesmo de se perderem no transporte, por questões de temperatura, pois o leite cru é muito sensível — comenta o o zootecnista.
Ainda segundo Bonotto, com a adição do sistema no processo de análise, sua empresa chega a economizar pelo menos R$ 3700 ao mês, pois cortam-se os custos com transportadoras e laboratórios. Já o produtor rural pode atingir até 40% de economia.
Continua depois da publicidade
Tecnologia visa aumentar qualidade do produto e reduzir custos
Com diminuição nos custos da análise das amostras a demanda do consultor rural aumentou muito. Foi o que aconteceu com Alexandre Matielo, também zootecnista e que utiliza tecnologias para facilitar o trabalho no campo.
— Fazemos hoje de 800 a mil análises por mês. Esse é o triplo do que fazíamos antes da tecnologia. O custo é muito mais baixo, considerando taxas e transporte.
Para Matielo, o novo modelo de coleta e análise proposta pelo sistema agrega muito mais valor ao produtor, que necessita de respostas imediatas, e que hoje, considera o zootecnista, é um ávido consumidor de tecnologias.
— O produtor rural é cobrado pela indústria pela qualidade a matéria-prima. Todos nós envolvidos no na cadeia produtiva do leite somos cobrados. Por isso cada vez mais trabalhamos com as boas práticas de produção dentro das propriedades e cada vez mais os produtores consomem ferramentas e soluções que os ajudem a colocá-las em prática. É isso que proporcionou a expansão que vemos hoje do leite catarinense e é o que possibilitará conquistarmos mais mercado – comenta.
Continua depois da publicidade
A expansão da qual Matielo se refere foi o salto que o Estado deu na produção do produto. Segundo dados do IBGE divulgados no Censo Agro de 2017 (último estudo até agora), entre 2006 e 2017, a produção de leite de Santa Catarina cresceu 103%, contra 87% do Paraná e 46,4% da média do Brasil. Naquele ano, o Estado havia produzido 2,988 bilhões de litros de leite e se posicionado como quarto maior produtor do Estado.