Entre abril e maio de 1993, Renato Russo ficou 29 dias internado na clínica de reabilitação Vila Serena, no Rio de Janeiro. Na luta contra a dependência química, o líder da Legião Urbana seguiu à risca os exercícios terapêuticos de escrita proposto pelo programa dos Doze Passos, criado pelos Alcoólicos Anônimos.

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Suas reflexões, autoanálises e desatinos recheiam o livro Só Por Hoje e Para Sempre _ Diário do Recomeço, já à venda nas melhores casas e sites do ramo. Segundo a divulgação oficial, a edição atende ao desejo do cantor de ter a obra publicada postumamente – no caso, mais de 18 anos depois de sua morte.

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O relato começa com Russo admitindo como a incapacidade de controlar o uso de álcool e outras drogas o afetou, conforme os trechos abaixo (com a grafia original):

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1. Meu trabalho

(…) O show foi espetacular, mas, de acordo com o médico que me atendeu, minha pressão estivera tão alta que eu poderia ter morrido ali mesmo, de um enfarte ou coisa parecida. Legal, né? Tive muito medo. Muito.

2. Minha saúde

Parei então de usar cocaína e concentrei-me no álcool, o que deve ter me levado a uma reação alérgica tão forte toda vez que bebia UM gole somente que fiquei abstêmio por mais de 18 meses. Aí eu só fumava haxixe. Legal, né?

3. Minhas finanças

Poderia ter viajado p/ a Europa (que ainda ñ conheço), mas certamente morreria de overdose de heroína (minha droga favorita, além do álcool) em Amsterdam ou algum lugar. Me sinto horrível, culpado e, novamente, um perfeito idiota com tudo isso. Legal, né? (Heroína é US$ 250 o grama.)

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4. Minha reputação

De dois meses para cá, qdo. cheguei ao “fundo do poço”, a imprensa começou a acompanhar meu caso com o interesse mórbido e sensacionalista próprio dos meios de comunicação de massa, e me dói muito ver meu rosto, nome e vida estampados nos jornais, junto com toda a vergonha e insanidade de meus atos.

5. Minhas relações

(…) evitava cheirar cocaína em grupo, por exemplo, por achar, mesmo completamente fora de mim, as pessoas em geral idiotas e entediantes. Acho que cheguei ao ponto de NÃO TER relações com ninguém, perto da data de minha chegada à Vila Serena. E até hoje me sinto muito mal por causa disso e sinto ter desperdiçado minha vida.

6. Minha educação

(…) por vezes a leitura de jornais me servia como desculpa para minha dependência. Exemplo: “Este mundo está um horror inominável mesmo, então posso muito bem fugir e me entorpecer”.

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7. Meu autorrespeito

Fiquei muito mais violento e prepotente do q. já sou, e arrogante; me achava um gênio incompreendido e, ao procurar por amor, comprando sexo, percebo que não tinha autorrespeito algum, chegando, em tempos recentes, até a “brincar” com sadomasoquismo e role-playing. De bicha proustiana passei a bicha pasoliniana (…).