Em 1996, Gore Vidal lançou uma compilação de memórias de seus primeiros quarenta anos de vida, intitulada Palimpsesto (Rocco, 1996, 400 páginas).

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Entre lembranças da infância em Washington, do exército, da II Guerra Mundial, do sexo na era da promiscuidade e da campanha política no Congresso em 1960, Vidal faz uma referência ao Brasil. Trata-se de um rápido perfil da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, reproduzindo uma conversa informal com o presidente Kennedy.

Jânio fizera manchete nos jornais americanos por condecorar Che Guevara. Kennedy condenou sua renúncia, mas negou qualquer intervenção do seu governo. Vidal reproduziu um diálogo ocorrido numa noite em que ele fora à Casa Branca buscar a mãe de Kennedy para passear. Enquanto esperava Rose Kennedy, bateu um papo com o presidente.

“A conversa imediatamente mudou para a recente renúncia do presidente Jânio Quadros do Brasil. Quadros fora um candidato civil reformista num país dominado por militares. Pouco depois de sua eleição, ele renunciou. Durante uma visita ao Brasil há poucos anos, me disseram porque: Os militares queriam governar através dele. Ele disse não e foi-se. Em agosto de 1961, eu não tinha a menor idéia disto.” JFK estava irritado. “Ele não tinha direito de ir embora só porque o jogo endureceu. John também se ressentia da referência feita por Jânio Quadros às ‘forças ocultas’ (significando, de acordo com muitos, os Estados Unidos), que ajudaram a botar pressão para sua saída. ‘Isto está totalmente errado. Se houve um lugar onde sempre jogamos… Ah… Corretamente, este lugar foi o Brasil. Fizemos empréstimos, vasilinamos ele. Não reclamamos da sua política externa. Mesmo assim ele renunciou e agora vem aí uma ditadura militar’, Jack acrescentou franzindo a testa”.

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