A era do pires na mão e da esmola está com os dias contados na Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Deve acabar junto com 2001, delimita Eliane Martins, presidente do comitê técnico da ginástica olímpica (GO) feminina.
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A CBG está entre as confederações contempladas com o segundo maior nível de recursos provenientes da Lei Piva – 3%, correspondente a R$ 900 mil por ano, R$ 75 mil mensais. Para quem, em 2000, em pleno ano de olimpíada, recebeu cerca de R$ 80 mil do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), os R$ 900 mil significam a possibilidade de preparar atletas que terão chances reais de lutar por medalhas nos Jogos de Atenas, em 2004.
– Nunca havíamos recebido tanto investimento – admite Eliane, que também coordena o centro de excelência de ginástica em Curitiba (PR) e atua como secretária-geral da União Pan-Americana de Ginástica.
Atletismo, basquete, desportos aquáticos, vela e vôlei foram as modalidades que ganharam 4% (R$ 1,2 milhão), a quota máxima na divisão da Lei Piva, ocorrida na terça-feira, no Rio, sob a supervisão do COB e com a concordância unânime das 27 confederações olímpicas.
– Todas têm medalhas olímpicas – justifica Eliane, referindo-se a um dos critérios utilizados pelo COB na distribuição dos recursos.
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Entre os outros figuram o nível técnico atingido pelas modalidades, número de praticantes, quantidade de federações filiadas às confederações e a infra-estrutura técnica.
Embora não demonstrasse ressentimento na voz, Eliane não deixou de acusar a mídia de mostrar apenas os aspectos negativos da ginástica depois que a carioca Daniele Hypólito atingiu a glória por ter conquistado o vice-campeonato mundial no solo em novembro, na Bélgica.
– Quase todo mundo só se referiu à pobreza da ginástica e ao fato de o Ronaldinho ter dado os dólares que custearam a alimentação da Daniele no campeonato, contudo, o lado bom é esquecido. Temos no centro de excelência um dos melhores lugares do mundo para a prática da ginástica, onde Daniele e Daiane (a gaúcha Daiane dos Santos, do Grêmio Náutico União/foto) treinaram seis semanas antes de irem para a Bélgica – afirma, com firmeza, Eliane.
Eliane explica que desde 1995, quando começou a ganhar a ajuda sistemática do COB, o Mundial foi o único evento oficial em que a CBG não pagou a alimentação das ginastas – custeou as passagens aéreas e a hospedagem –, a fim de que mais atletas pudessem participar de mundiais em outras disciplinas. Além da ginástica olímpica feminina, há a masculina; a ginástica rítmica desportiva individual e conjunto; a acrobática; a aeróbica e o trampolim.
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De vestido longo preto e salto alto, Daniele não quis falar em dinheiro – nem dos salários devidos pelo seu clube, o Flamengo – na segunda-feira, quando foi escolhida a melhor atleta de 2001, em cerimônia organizada pelo COB, no Rio.
– A Marlene Mattos (empresária da apresentadora Xuxa e de outras celebridades) está cuidando da minha carreira. Agora, vou poder só me preocupar em treinar e brigar por medalhas para o Brasil – anunciou em tom solene a adolescente de 17 anos, a quarta melhor ginasta do mundo em 2001.
A partir de 14 de janeiro, Daniele e Daiane abrem os trabalhos para 2002, quando a seleção permanente de GO começa a treinar em Curitiba. A principal competição da temporada será o Mundial por aparelhos em novembro, na Hungria, o palco para a ginástica nacional mostrar os dividendos do primeiro ano da Lei Piva.