A obesidade infantil nunca foi um assunto tão preocupante e comentado. Segundo a última pesquisa do IBGE, uma em cada três crianças, entre cinco e nove anos, está obesa. Nos Estados Unidos, a situação é tão preocupante que uma lei que alega ser digno de perda de guarda se os pais tiverem filhos obesos. Na visão deles, a obesidade poderia ser evitada se os pais controlassem melhor a alimentação das crianças. Segundo o professor de direito da UERJ Guilherme Calmon, a lei brasileira permitiria esse sistema.
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– O código civil brasileiro permite tanto a suspensão quanto a perda do que nós chamamos de poder familiar. E uma das hipóteses é exatamente o não cuidado, os maus tratos, o não criar qualquer tipo de limite em relação à alimentação deles, permitindo que chegue a esse extremo – explicou o professor.
Mas será que a obesidade é sinônimo de maus tratos e falta de limites? Segundo a psicóloga Marjorie Vicente, a obesidade, assim como todos os tipos de transtornos alimentares, é apenas a pontinha do iceberg. Precisamos investigar o que está por trás do comportamento alimentar anormal e da dinâmica familiar envolvida nesta problemática.
A série de acontecimentos na vida de uma criança (associada a fatores genéticos e/ou predisponentes) pode levá-la a compulsão por comida, assim como em muitos casos leva à anorexia e bulimia. O contexto atual, pais que trabalham o dia inteiro, acaba facilitando o acesso livre da criança a qualquer tipo de alimento na casa. Se ela, por exemplo, está passando por momentos e situações complicadas com os amiguinhos na escola, uma das maneiras de “afogar” suas mágoas (mesmo que de forma inconsciente) é ingerindo doces ou comidas que a satisfaçam.
A alimentação não possui apenas uma função nutritiva, mas também, uma função afetiva ao longo da vida. Especialmente, nos primeiros anos de vida. Os pais acabam respondendo muito a forma de se alimentar dos filhos, a alimentação é a primeira “moeda de troca” da criança.
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No lado oposto, alguns comportamentos acabam contribuindo para problemas posteriores relacionados ao excesso. Mães que alimentam o filho vendo televisão e respondem com o alimento quando a criança chora, acabam por ensinar uma maneira errada de reconhecimento e atenção. Pais que forçam a quantidade de comida podem levar a criança a não saber reconhecer mais a sua saciedade, e possibilitar mais tarde, o aparecimento da compulsão alimentar.
– Não acredito que afastar os filhos dos pais seja a melhor das hipóteses, acredito sim em um programa de educação destas famílias quanto a alimentação e as suas implicações, e também, um trabalho psicoterápico que aborde as motivações e fatores mantenedores destes comportamentos. Exceto em raras exceções, os pais querem o melhor para os filhos e estão em constante aprendizado deste papel social tão cheio de responsabilidades, incertezas e alegrias – finaliza Marjorie.
Dicas para combater a obesidade infantil:
– Não impor a comida através de ordens
– Não exigir que “se limpe o prato”
– Tornar a refeição um momento agradável e de encontro entre as pessoas que se amam
– Evitar assistir televisão, alimentar-se em frente ao computador ou manter discussões frequentes na mesa
– Não usar o alimento como prêmio ou castigo