O leite materno é o primeiro alimento que o recém-nascido recebe. Além de conter nutrientes essenciais que ajudam na prevenção de doenças, a amamentação também fortalece o laço entre mãe e bebê.

Continua depois da publicidade

A legislação tem se atualizado para garantir o acesso das crianças à este tipo de nutrição. Neste ano, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) teve artigos modificados para determinar a obrigatoriedade da orientação da gestante, do desenvolvimento de ações de apoio ao aleitamento nas unidades de saúde e do serviço de banco de leite humano nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Confira a página especial do projeto Joinville que Queremos

Em Joinville, o banco de leite humano da Maternidade Darcy Vargas, criado em 1980, é uma referência para a região. Em 2015, foram realizados 28.719 atendimentos, 1.071 visitas domiciliares a 741 doadoras que beneficiaram 673 recém-nascidos internados na unidade neonatal. Desde 2013, a maternidade recebe o Certificado de Excelência na Categoria Ouro do Programa Iberoamericano em Bancos de Leite Humano.

Continua depois da publicidade

De janeiro a maio deste ano, foram realizados 13.142 atendimentos individuais e 59 em grupo. Nesse período foram coletados 619,2 litros de leite e distribuídos 374,8 litros. O banco de leite dispõe de um serviço que leva equipamentos esterilizados e coleta o leite na casa das doadoras, semanalmente. Foram realizadas 414 visitas domiciliares neste ano. Estão cadastradas no sistema 302 doadoras e 311 receptores.

Antes de chegar aos bebês, o alimento passa por um processo rigoroso de controle de qualidade, que verifica a quantidade de gordura e acidez, para depois ser pasteurizado e examinado num teste de controle de infecções. Quando congelado, pode durar até seis meses.

Segundo a coordenadora do banco de leite, a médica Maria Beatriz Reinert do Nascimento, 75% do trabalho realizado pela equipe é de assistência ao aleitamento e os outros 25% é de processamento do alimento. Somente no mês de maio, foram realizados 2.995 atendimentos e coletados cerca de 200 litros de leite – recorde em 2016. Foram 70 recém-nascidos atendidos.

Continua depois da publicidade

Apoio para as mamães

Lindia Oliveira Machado, 23, procurou o serviço pois teve dificuldade para amamentar sozinha a filha Izabela: o leite não saía. Nesses casos, muitas mães de primeira viagem podem se desesperar pelo medo de não conseguir alimentar a criança no peito. No banco de leite há um trabalho de apoio psicológico que ajuda a enfrentar a situação.

– Foi uma experiência muito boa, trouxe vários recursos que me ajudaram bastante. Eu não tinha leite, agora tenho até demais. Aconselho a quem tem dificuldade. Eu soube pela assistente social, que passou no meu quarto, viu minha filha chorando de fome e me disse para procurar o banco de leite – conta.

Conforme a coordenadora do banco de leite da Maternidade Darcy Vargas, a médica Maria Beatriz Reinert do Nascimento, a amamentação não é um ato instintivo, portanto, é preciso ser aprendido antes da prática. Ela aponta o perigo de idealizar que “a amamentação é apenas um ato de amor”, porque, na prática, há muitos percalços como a rachadura ou empedramento do seio e o período do desmame, que causam sofrimento nas mães.

Continua depois da publicidade

Responsabilidade de todos

Um dos maiores impedimentos da amamentação vem de quem não tem nada a ver com isso. Em muitos ambientes, seja na rua, no restaurante, no trabalho ou no ônibus, mulheres podem se sentir desconfortáveis em alimentar a criança no seio. Na visão da médica Maria Beatriz, se a mulher não se sente acolhida quando for amamentar, ela está sendo privada de dar à criança um melhor começo de vida. No Brasil, desde 2015, quem impede a amamentação em público pode ser multado em R$ 500.

– A amamentação é responsabilidade de todos. Não só da mulher. Ela precisa do apoio da família, dos profissionais de saúde, da comunidade e da sociedade em geral. São necessárias políticas públicas para que isso aconteça – afirma.

A médica aponta que, segundo artigos divulgados na revista científica Lancet, a amamentação previne contra câncer de mama, de ovário e diabetes nas mães. Nas crianças, diminui incidência de obesidade e diabetes, além de morte por diarreia ou infecções respiratórias. No mundo, o simples ato de amamentar pode prevenir cerca de 800 mil mortes de recém-nascidos por ano.

Continua depois da publicidade

Maria Beatriz destaca também a importância de se falar sobre amamentação no local de trabalho das mães. O Ministério da Saúde desenvolveu três ações nesse sentido: extensão da licença maternidade para seis meses, creches nos locais de trabalho e salas de apoio à amamentação nas empresas. A primeira do Estado de Santa Catarina foi instalada para as funcionárias da Maternidade Darcy Vargas.

– É importante que os empresários observem isso, porque uma sala dessas não custa caro. Aí a mãe pode voltar ao trabalho tranquila porque a criança vai ficar menos doente, então a mulher vai faltar menos ao trabalho. Assegura-se o direito para a mãe, mas o maior benefício é para a criança.

Entretanto, é necessário uma legislação que assegure o acesso dos bebês a esse direito fundamental, pois a amamentação muitas vezes é repreendida pela sociedade em locais públicos ou de trabalho.

Continua depois da publicidade