Cinco jogos, cinco vitórias, 28 gols marcados e sete gols sofridos. Esse é o retrospecto do técnico João Gualberto Mesquita à frente da equipe sub-20 do Avaí, que tem empolgado torcedores e já ganhou um apelido pra lá de estimulante: Barceloninha. Adepto do futebol que valoriza a posse de bola, a marcação por zona e o toque rápido, além das inovações tecnológicas, Mesquita é o mentor da mudança.
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Sob o seu comando, jogador algum fica parado. Ele quer movimentação intensa por todos os setores do campo e esforço extremo. A metodologia não é muito diferente das que são amplamente divulgadas por outros treinadores. O barato da história está na forma de ensinar e cobrar dos atletas. Mesquita usa um iPad para mostrar ao grupo o que quer que cada um deles desenvolva dentro de campo.
E, como a maioria da garotada é ligada ao mundo virtual, assimilar o que o “professor” pede fica bem mais fácil. Na última quarta-feira, antes do jogo contra a equipe do Atlético, de Ibirama, no campo do Bangu, no Bairro Rio Tavares, na Capital, Mesquita chamou o grupo à beira do campo para transmitir as orientações. O papo foi rápido, do jeito que ele quer ver dentro de campo.
Todos saíram dali cientes do que precisavam fazer, mas, às vezes, a teoria não se aplica na prática com facilidade. Nervosos, os jogadores do Leão viram o adversário sair na frente e o que era para ser fácil, ficou complicado. O gol de empate veio em um lance de bola parada. Em cobrança de escanteio, o lateral Paulo Júnior colocou a bola fora do alcance do goleiro do Atlético e empatou. Gol olímpico.
No segundo tempo, a pressão aumentou. O “Barceloninha” desperdiçou chances incríveis e coube a Mesquita mudar o desfecho da história. Na metade do jogo, ele fez duas alterações que seriam decisivas: colocou o volante Wesley no lugar de Marrone e Kaique na vaga de Mariano. Aos 27, Wesley tocou para Kaique e ele virou o placar. Aos 34, Diego ampliou e, nos acréscimos, Kaique fechou a conta. Festa dos garotos, euforia no reservado.
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O “Barceloninha” venceu mais uma e Mesquita sacudiu o grupo com um discurso inflamado:
– Hoje, não jogamos como gostaríamos, mas somamos três pontos e isso é o que interessa. Se não deu na técnica, deu na raça. Se não pudemos ganhar “a la Barcelona”, a gente ganha “a la Bangu” – disse, em uma alusão ao clube que cedeu o campo para a partida.
No fim de semana, a história se repetiu. Diante do maior rival, o Figueirense, os meninos foram melhores de novo e ganharam o jogo por 2 a 1, o que mantém a equipe na liderança do Estadual.
Wesley almeja chegar no profissional. Foto: Betina Humeres, Especial
O exemplo de Wesley
Boa parte do grupo de atletas do time júnior do Avaí vem de outras cidades e regiões do país. Um exemplo é o volante Wesley Conceição de Jesus, de 18 anos, que saiu de Vila Velha, no Espírito Santo, há um ano e meio. Reserva imediato de Marrone, um dos atletas que transita entre o júnior e o profissional do clube, Wesley largou os amigos e a família em nome do sonho de ser jogador de futebol. Filho único, ele aprendeu a driblar os problemas desde cedo. A mãe, doméstica, o criou sem a ajuda do pai, mas isso não impediu o garoto de superar barreiras. No Avaí, ele teve suporte do clube para terminar os estudos. Tem até contrato profissional e recebe um salário mínimo por mês que, se ainda não é vantajoso, lhe ajuda a comprar o que precisa.
– Aqui é muito legal. Me tratam superbem e sinto como se eu estivesse com a minha família. O clube é grande e quero me profissionalizar e fazer história no Avaí – diz. ?
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Como funciona no Barça
O Barcelona atua sob a égide do 4-3-3 holandês, com triângulo de base alta no meio-campo, há muito tempo. Passam-se gerações e o conceito – ou cultura do clube catalão – permanece inalterado. A ideia implantada há mais de 30 anos parece simples. Dentro de campo são formadas “pequenas sociedades de três jogadores. Elas se aproximam umas das outras em oito triângulos possível. É desta forma que o Barcelona mantém o seu alto índice de posse de bola. Não há inversões longas, ligações diretas, decisões apressadas. O controle do jogo se dá com passes curtos dentro de cada pequena sociedade. A estratégia de valorização da posse de bola exige muita familiaridade dos jogadores com esta filosofia de futebol. ?
Como funciona no Avaí
O conceito usado pelo técnico Mesquita no Sub-20 do Avaí é o mesmo do Barcelona. Os jogadores são orientados a valorizar a posse de bola, dar toques curtos e rápidos e marcar o adversário sob pressão. A única diferença está na conclusão das jogadas. Mesquita libera os seus atletas para o improviso, para o toque de qualidade genuinamente brasileiro.
– O esquema não é nada engessado. O jogador pode tentar o drible, sim, desde que – afirma. ?
O modelo proposto
Além da referência do Barça, Mesquista procura difundir entre os atletas conceitos próprios estruturados em quatro pontos: organização defensiva (pressão para recuperar a bola e opções para sair jogando) e transição ofensiva (saída de bola e valorização da posse) na base, e organização ofensiva (manutenção e circulação da bola, mobilidade e finalização) e transição defensiva (compactação) no topo. ??
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Mesquita revelou o craque Marquinhos, ídolo do Avaí. Foto: Betina Humeres, Especial
Quem é ele
Graduado em Educação Física e pós-graduado a nível de especialização em Educação Física Infantil pela Udesc, João Gualberto de Neiva Mesquita tem 47 anos de idade e foi quem revelou o meia Marquinhos, eterno ídolo da torcida avaiana. Além dele, Mesquita trabalhou, no início da carreira, com o meia André Moritz, do Mersin, da Turquia; com o lateral Guilherme Siqueira, do Granada, da Espanha; e com o ex-jogador de futsal, o ala Chico. Há dois anos, Mesquita assumiu como treinador da equipe sub-15 do Leão, onde conquistou títulos importantes, como o Estadual da categoria. ??
Sob o comando de Mesquita
Avaí 6 x 3 Brusque
Avaí 10 x 0 Camboriú
Avaí 6 x 2 Marcílio Dias
Avaí 4 x 1 Atlético-Ib
Avaí 2 x 1 Figueirense
Retrospecto
5 jogos
5 vitórias
28 gols marcados
7 gols sofridos
média de 5,6 gols por partida
Próximo jogo
Joinville x Avaí
Arena
sábado, 23 de junho
15h30min ?