Não estranhe ver como atração da Feira do Livro de Joinville um ator do calibre de Lázaro Ramos. Para além dos trabalhos na TV e no cinema, ele também é um aplaudido autor de livros infantis, sendo que o terceiro, Caderno de Rimas do João (2015), foi inspirado nas muitas perguntas feitas pelo primogênito.

Continua depois da publicidade

Há um quarto título em produção, aí dedicado à filha mais nova, mas sua mais recente experiência nas letras é Na Minha Pele, na qual ele sai do universo infantil para lançar reflexões sobre questões de gênero, discriminação e afetividade.

Lázaro estará na feira nesta segunda-feira, 12 de junho, às 19h30, e na terça, às 15 horas, mas antes deu a seguinte entrevista para Orelhada:

A curiosidade das crianças o fascina ou o surpreende? Você foi uma criança curiosa?

Continua depois da publicidade

Lázaro Ramos – Fui uma criança muito, muito curiosa. Vivi numa casa com quintal, o que fez com que eu pudesse exercitar toda a minha criatividade. E as crianças sempre me surpreendem e me instigam. Eu gasto bastante do meu tempo quando encontro-as para conversar, e isso acabou me estimulando a escrever para elas.

Quando a sua filha nasceu, você se sentiu na obrigação de fazer um livro para ela?

Lázaro – Na verdade, o João falou que eu tinha que escrever um livro para ela. A Velha Sentada (2010) já é um livro que fala sobre uma menina e eu achei que ela estaria bem representada, mas o João me cobrava para fazer um livro para ela. Já comecei, estou trabalhando no Caderno de Rimas da Maria. Só que, como o Caderno de Rimas do João foi inspirado na minha relação verbal com ele, e ela está começando agora a falar, estou esperando para ver como ela vai me estimular a escrever o livro.

Li uma entrevista em que você frisa a importância da representatividade na literatura infantil. Pode explicar?

Continua depois da publicidade

Lázaro – Ele se ver representado nos livros infantis é muito importante para a gente entender que o mundo é diverso e que existem várias culturas, várias etnias, várias formações de família. Isso só engrandece as pessoas, porque a gente fica conhecedor da diversidade que é o mundo e é isso que eu procuro fazer: aproveitar esse olhar em formação da criança para dar a informação de que a multiplicidade cultural que nós temos é um valor a ser celebrado.

Como você arranja tempo para escrever, com tantos projetos e a família para cuidar?

Lázaro – Na verdade, estou sempre ou com um bloquinho ou anotando no bloco de notas do celular. Às vezes, é uma ideia solta; às vezes, é uma cena completa que eu gravo o áudio e em algum momento sento para me organizar. Mas sempre escrevi e escrevo o tempo todo. O bacana é que não escrevo por encomenda ou necessidade. Escrevo para me comunicar com as pessoas, e isso acaba gerando textos diversos.

Você pensa em escrever algo fora do universo infantil?

Lázaro – Ah, tenho escrito bastante coisa fora dele. Estou lançando agora, inclusive, um livro adulto chamado Na Minha Pele, projeto que comecei há dez anos e concluí agora. Está saindo pela Editora Objetiva.

Continua depois da publicidade

Com tantos anos de carreira no cinema e na TV, ainda é um pouco estranho para você participar de eventos literários?

Lázaro – Não, me sinto muito bem, porque fui público de eventos literários. Os eventos literários que tinham na Bahia eram preferenciais meus. Depois do primeiro livro, comecei a receber vários convites e me sinto muito bem. É um diálogo muito bom, adoro falar sobre literatura, sou um leitor contumaz. Acontece que ainda não fui a todas as feiras do País, e a cada feira, eu encontro um novo estímulo. Estou ansioso para chegar em Joinville.

Uma das principais atrações da Feira de Joinville é Conceição Evaristo. Faltam mais autores negros ou falta divulgação do trabalho feito por eles?

Continua depois da publicidade

Lázaro – Conceição Evaristo é uma das melhores autoras deste País. Admiro-a profundamente, tive a oportunidade de conhecê-la e encontrado com ela várias vezes. Aprendi muito com a literatura dela. Acho que há vários outros autores que às vezes não têm projeção. Tem surgido uma nova geração e isso é muito importante, a gente conseguir fazer da literatura também um lugar de muitas vozes.

Confira outras colunas de Rubens Herbst