Inspirado no amigo Theodoro Otto Max Loewski (1919-2003), que subiu o Morro do Baú 107 vezes mesmo depois de safenado, resolvi comemorar minha centésima subida ao topo do morro Spitzkopf na data dos 50 anos da primeira subida. A celebração aconteceu no último sábado, prestigiada por mais de uma centena de pessoas, entre parentes, amigos e simpatizantes (coluna do Pancho, Santa, 14 de novembro), o que me deixou por demais feliz e lisonjeado. A emoção aflorou na volta com o recebimento de dois mimos personalizados, o primeiro da esposa e filhos e o outro da Acaprena, entidade da qual participo há 43 anos.
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Das muitas carinhosas postagens na internet após o evento, uma delas, em especial, tocou o lado verde do meu coração, a do amigo carioca alpinista, jornalista, botânico e ecologista Rogério Oliveira, que disse: “esse feito te torna uma testemunha privilegiada da transformação da paisagem”.
De fato, cada contato com o meio natural, para mim, equivale à leitura de mais um capítulo do grande livro da natureza. Posso, então, me considerar uma testemunha privilegiada da transformação da paisagem e das relações das pessoas com a paisagem, principalmente na área do morro Spitzkopf e arredores, que hoje compõem o Parque Nacional da Serra do Itajaí.
Que alegria e sensação de vitoriosa felicidade cada chegada ao topo da montanha, aprender a identificar cada ponto da paisagem, ver na mesma paisagem paisagens diferentes conforme o dia, a época do ano, a hora, o clima, o jeito como o vento sopra ou mesmo o estado de espírito do momento. Por outro lado, a lamentável constatação de sinais de caçadores que insistem até hoje em surrupiar nosso direito de apreciar a fauna silvestre, ao contrário da devastação florestal que, felizmente, cessou por completo no verão de 1992, com a proibição do corte da Mata Atlântica no Brasil!
Foi interessante perceber que antigos pinheiros da espécie Pinus sp, plantados há muitos anos, começaram a morrer depois de concluído seu ciclo de vida, sem invadir a Floresta Atlântica como muitos previam; observar como a vegetação vem se recuperando em áreas desnudadas pelo incêndio de 1995 ou por antigos deslizamentos, como o ocorrido na enxurrada de 1961 ou ver, 10 anos depois, as consequências de um serviço de trator mal feito em 2006 que ajeitou o caminho de acesso, mas causou grande impacto ambiental, ou, três anos depois, as grandes alterações na floresta decorrentes da forte nevasca de 23 de julho de 2013.
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Spitzkopf, um dos meus casos de amor à natureza.