Na polêmica das pontes projetadas para o Centro de Blumenau, surgiu nas últimas semanas um grupo contrário ao projeto e localização de uma delas, entre as ruas Itajaí, na margem direita, e a rua Paraguay na Ponta Aguda, margem esquerda do rio Itajaí-Açu. Os principais argumentos contra essa alternativa de ponte são: a) de ordem estética, pela lesão ao sítio histórico e paisagístico mais relevante e fotografado da cidade, a curva do rio com a prainha na Ponta Aguda, outrora agitado balneário fluvial; e b) de ordem hidrológico-ambiental pela falta de comprovação técnica da interferência dos pilares na vazão do rio em caso de enchentes.
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As interferências no perfil natural da prainha começaram ainda tímidas na década de 1970 com a implantação da primeira fonte luminosa e a ereção do monumento do histórico Vapor Blumenau — este em local diferente do atual, culminando com um grande aterro para depósito de material de desassoreamento do rio, obra do antigo DNOS após as grandes enchentes de 1983 e 1984. Obra inútil e prejudicial, pois, em poucos anos, o leito primário assoreou-se novamente, mas ficou o leito secundário obstruído pelo grande aterro que bloqueia a passagem de significativo volume de águas de enchentes que por ali cortavam caminho permitindo uma maior vazão que agora não existe mais.
Um enrocamento feito há poucos anos junto ao rio, impondo uma curva geometricamente perfeita, porém, nada natural na Prainha foi mais um golpe à paisagem outrora harmoniosa que só a paciência da sábia natureza é capaz de fazer. Enquanto milhões de pessoas deslocam-se mundo afora em busca das mais belas paisagens, aqui em Blumenau prejudicamos o mais emblemático cenário da cidade bem defronte aos nossos narizes, hoje só visíveis em imagens antigas, como nas magníficas fotos históricas de Willy Sievert.
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Ora, não tem sentido denunciar danos estéticos e hidrológicos de uma ponte sem levar em conta os mesmos danos já causados na curva do rio. Se é para preservar a harmonia paisagística e hidrológica, que também se revertam os danos ainda piores provocados pelos aterros e enrocamento na prainha, que enfeiam e prejudicam a vazão do rio nas enchentes.
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Se essa ponte for mesmo feita, que se estabeleça como compensação ambiental, histórica e paisagística a volta da prainha ao seu perfil topográfico natural e original, uma possibilidade real que, bem planejada, não prejudicará o uso público do local. E por que não voltarmos, a exemplo do que Paris está fazendo com a despoluição do rio Senna, a usar a Prainha como o balneário central de Blumenau?
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