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Muita coisa melhorou, não há dúvida, como no fim do grudento piche oriundo de descargas de óleo dos navios no mar, no monitoramento da qualidade das águas pela Fatma, no (ainda muito insuficiente) tratamento de esgotos, no lixo que acumulava-se às toneladas, quase impedindo a visão da areia no final de cada dia de verão e num mais recente, mas ainda tímido cuidado com a paisagem natural, entre outros avanços. A preocupação, porém, sempre foi egoísta, só pensando na metade humana do meio ambiente, no usuário banhista ou praieiro, jamais nos ecossistemas como um todo como deveria ser numa verdadeira gestão integrada de nossas praias.

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Até mesmo os ditos loteamentos “ecológicos” ou “sustentáveis” mais recentes em muitas praias deixam muito a desejar e o que menos toma-se em consideração é a sustentabilidade ecossistêmica ou seja, do ambiente natural, da manutenção de chance de sobrevida a todas as espécies.

Um impacto cruel ainda não considerado deve-se ao simples PISOTEIO, que impede ou, no mínimo, prejudica demais a vida nas praias. Muitos crustáceos, insetos e espécies de outros grupos animais não sobrevivem sob o pisoteio incessante de milhares de pessoas caminhando em todas as direções, praticando esportes, etc., em todos os dias de verão. Várias espécies da fauna psâmica, ou seja, da areia, simplesmente desaparecem devido ao insuportável intenso pisoteio que impede seu ciclo diário da sobrevivência.

Testemunhei o gradativo declínio da presença do caranguejo maria-farinha na proporção do aumento da frequência de banhistas na praia de Navegantes nos últimos anos. Recentes pesquisas de doutorado feitos nas praias do vizinho Paraná acabam de comprovar essa observação empírica: a vida nelas é inversamente proporcional ao pisoteio!

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Entre as recomendações do estudo para amenizar o problema consta a demarcação de várias pequenas áreas não pisoteáveis e o não exagero na limpeza ou retirada de matéria orgânica natural da areia por parte das prefeituras, importante para a vida de inúmeras espécies que, por sua vez, nos devolvem o favor mantendo a sadia qualidade das praias e por isso interessa aos veranistas também. A verdadeira sustentabilidade só será obtida quando tais avanços forem implementados. Aí sim, teremos atingido o manejo integrado de nossas praias.