Quem percorre a trilha para a Terceira Vargem no Parque das Nascentes/Parque Nacional da Serra do Itajaí depara-se, no meio da floresta, com alguns pinheiros de espécie exótica do gênero Pinus originária da América do Norte e introduzidas há mais de um século no Brasil. Eles não foram plantados e nem se observa, até onde a vista alcança, qualquer outro indivíduo dessa espécie. Como eles foram parar ali?

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Quase no topo do morro do Spitzkopf em Blumenau, há uma pequena área ocupada por Pinus sp (sp se refere à espécie não necessariamente identificada), ao lado de um bosque de pinheiro exótico de origem asiática, do gênero Cunninghamia. Ambas espécies ali foram plantadas há bem mais de 50 anos. De uns anos para cá os Pinus sp começaram a morrer, provavelmente devido ao fim do seu ciclo de vida.

Nesses bem mais de meio século esses Pinus sp produziram bilhões, talvez trilhões de sementes que se espalharam em todas as direções e, no entanto, não se observa uma invasão sequer dessa espécie exótica na Floresta Atlântica nativa próxima. Se a espécie é considerada oficialmente como invasora e teve tanto tempo para invadir, como se explica essa não invasão?

Certo dia, depois de muito andar na mata, cheguei ao local onde havia um indivíduo de Pinus sp que destoava da bela paisagem natural do Parque das Nascentes, no alto de uma crista de morro no sentido leste-oeste. Observando atentamente os arredores, descobri alguns “filhotes” desse Pinus sp, todos nascendo justo na quebrada da crista que dá para o norte, local onde, aqui e acolá, a luz do sol atinge o solo, inclusive no inverno, e nenhuma muda da espécie em locais mais sombreados pela vegetação ou virado para o lado sul, menos ensolarado.

Em mais de 50 anos observando as florestas da região, posso concluir que as mudas oriundas de sementes de Pinus sp, que gostam de sol, não conseguem vingar à sombra, mesmo que essa sombra seja produzida apenas por um samambaial de um metro de altura. Esse pinheiro exótico só cresce onde houve algum tipo de perturbação que desnudou o solo, como queda de barreira ou incêndio, onde, aí sim, as mudas têm chance de crescer antes que o local seja colonizado e sombreado pelas espécies nativas.

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Podemos afirmar, portanto, com todas as letras, ao contrário do que muitos acreditam, que espécies de Pinus sp podem ser consideradas invasoras em áreas mais abertas, como campos no planalto ou em restingas no litoral, menos nas florestas nativas, fechadas e úmidas do Médio Vale do Itajaí, onde elas podem até ser oportunistas.

Invasoras, não.