Não é preciso ser quiropterólogo para saber que os morcegos, assim como todas as espécies viventes, desempenham um importante papel na natureza e no equilíbrio ecológico.
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Outro dia deparei-me com a quase sempre questionável cena do corte de uma árvore de médio porte no terreno fronteiriço a uma casa. O motivo? “É que ontem à noite entrou um morcego na sala e eles vêm aqui por causa dessa nespereira”, respondeu a assustada proprietária, minha conhecida.
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A relação mística e irracional da humanidade com os morcegos, assim como com vários outros bichos, data de tempos imemoriais. Os seres humanos, adaptados a enxergar apenas à luz do dia, logo começaram a temer aqueles estranhos seres “feios”, capazes de se orientar em voo em plena escuridão da noite, de onde vêm chupar nosso sangue enquanto dormimos. Daí para histórias de homens vampiros, associação de morcegos com figuras de demônio e tantas outras lendas foi um pulo.
Uma de cada quatro espécies de mamíferos do Brasil pertencem à ordem dos Quirópteros. São 180 espécies atualmente, como informa o Dr. Nélio R. dos Reis, de Londrina. Já o Dr. Sérgio Althoff, daqui da Furb, participou da descrição de uma das últimas espécies descobertas.
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A maioria dos morcegos devora insetos, mas existem também espécies carnívoras que comem rãs, lagartixas, pequenas aves e roedores e até morcegos menores. Os espetaculares morcegos-pescadores agarram pequenos peixes orientando-se com um sonar capaz de captar sutis ondulações na superfície da água. Há espécies que se alimentam de pólen e néctar, além das frugívoras, caso dos morcegos que comiam as nêsperas da nossa amiga. De todas, apenas três espécies são hematófagas, ou seja, três chupam sangue e 180 levam a fama.
Os morcegos são muito mais benéficos que prejudiciais aos seres humanos. Um único morcego insetívoro, por exemplo, pode comer de quinhentos a mil mosquitos por noite, inclusive os transmissores da dengue, malária e leishmaniose, além de muitos insetos daninhos. No conjunto, participam do equilíbrio ecológico, devorando insetos às toneladas por noite. Já os polinívoros e nectarívoros são importantes polinizadores e os frugívoros grandes dispersores de sementes, ajudando a renovar e manter o equilíbrio das florestas.
O medo de alguns não pode justificar ações meramente emocionais e para isso existe a educação e a informação. Se uma árvore vai abaixo por causa de apenas um inofensivo morcego que entrou uma única vez numa casa em anos, é sinal de que precisamos repensar os rumos de nossa Educação Ambiental.