Personagem do filme de animação Frozen, da Disney, Olaf é um boneco de neve que ganha vida, representando o amor inocente. A certa altura da estória, Olaf expressa o forte desejo de sair do frio: “quero ir para uma praia, sentir o sol e o calor”, no que a princesa Anna e o namorado Kristoff comentam entre si que “alguém tem que lhe dizer”, pois Olaf, simplesmente, não tinha a menor ideia de que o seu anseio de calor, ainda que justo, não seria nada bom para ele, ao contrário, significaria seu derretimento, seu fim.
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Estamos na campanha eleitoral, com cinco candidatos a prefeito e 191 candidatos a vereador só em Blumenau e isso é bom. Na semana passada comentei sobre o migrante do Paraná Zé Pequeno e sua luta para conseguir um lugar ao sol, ou seja, onde seu poder aquisitivo lhe permitia, num loteamento irregular, clandestino, desmatado onde não podia, em área de preservação permanente e de risco em Blumenau, mas que ele, assim como milhares de outros em situação semelhante, mesmo tendo consciência das irregularidades, não tinham medo da lei. Quem tem medo, não da lei, mas de assumir que a lei seja aplicada são os candidatos e políticos de um modo geral.
Chega ano eleitoral a novela se repete. Todos sabem nas prefeituras que é o ano de afrouxar ainda mais o que já vive frouxo, ou seja, a fiscalização. A ordem é não ser antipático e não confrontar o eleitor – dizer que ele está errado? Nunca, JAMAIS!!! – e assim eternizam-se muitas irregularidades. Entramos no emblemático e festivo período dos sorrisos, apertos de mão e tapinhas nas costas como que a anestesiar a consciência de muitos sobre as duras consequências do período pós-eleitoral que, dependendo do caso, perdurará por décadas e mesmo para sempre. Como houve a anestesia, poucos ligarão uma coisa com a outra.
Não vivemos nas montanhas de Arendelle, fictício local do filme da Disney. Aqui, não é o Olaf que corre o risco de derreter, mas sim os morros durante fortes chuvas, cuja ocupação irregular, assim como outros ilícitos, intensificam-se nos períodos eleitorais. Grande parte dos candidatos não têm e nunca tiveram coragem de alertar seu potencial Olaf eleitor de que o desejo de um lugar ao sol, nessas condições, ao arrepio da lei e do ordenamento territorial, não será nada bom para a cidade e muito menos para ele que, com isso, sente-se legitimado para buscar seu temeroso lugar ao sol. Um exemplo de nefasta e criminosa inversão do dito popular de que a voz do povo é a voz de Deus.
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