Esse parque nacional é uma pequena parte da grandiosa cadeia de paredões com centenas de canyons ou canhadões que formam a mais espetacular feição geomorfológica brasileira, que se estende de perto de Gramado e Taquara, no Rio Grande do Sul, até a região do morro Campo dos Padres em Santa Catarina. Isso forma uma verdadeira caixa d’água natural para a vasta região Sul de SC e, no planalto, lugar de milhares de nascentes do Uruguai, um dos maiores rios da região Sul.

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O ineditismo da paisagem e dos ecossistemas e a importância do manancial levariam qualquer país sério a preservá-los em sua integralidade, como aliás foi recomendado pelo botânico Pe. Raulino Reitz já em 1964, para compor uma importante e espetacular reserva de 300 km de comprimento por 20 km de largura. A topografia acidentada permitiria transformá-lo no maior parque nacional da Mata Atlântica brasileira sem maiores prejuízos ao setor produtivo, muito pelo contrário: dezenas de municípios, tanto do planalto como do litoral Sul, se beneficiariam com uma invejável espécie de meca do ecoturismo nacional.

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O São Joaquim, que há 54 anos Raulino Reitz sugeriu chamar de Parque Nacional do Morro da Igreja, já é um dos mais visitados no Brasil pelos que procuram seus atrativos, entre eles o mais icônico, a misteriosa pedra furada, avistada em meio a paredões verticais gigantescos, do alto dos 1.822 metros do morro da Igreja, acessível por veículos e ônibus mediante licença do ICMBio.

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Como muitos outros parques nacionais no país, também o São Joaquim foi deixado à deriva por décadas, no mar da deficiente gestão pública brasileira. Justo agora, com 50% de sua área regularizada e começando, finalmente, a ser bem aceito pelas comunidades, mexeram nele, para pior. Isso não pode ficar assim, à mercê de um “dodói” ou um “ai!” de um prefeito aqui, um produtor ali ou um deputado desinformado acolá. Se o interesse maior da nação é o que deve prevalecer, que então se reverta o mal que foi feito e poupemos tristeza a João Mattos e reviradas no túmulo a Raulino Reitz.