Não conheço Juliano Duarte Campos, prefeito de Governador Celso Ramos, mas acho que ele perdeu uma grande chance de ficar de boca calada quando, num infeliz ato de elitismo, preconceito, arrogância e discriminação, declarou nas redes sociais, na semana passada, que “não precisamos de farofeiros, precisamos de turismo de qualidade e não de quantidade”.
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Isso me fez lembrar de uma cena que observei há muitos anos no Canto da Armação, em Penha. Um menino mergulhava e regressava à superfície seguidas vezes, sempre entregando ao pai, que estava no convés de um pequeno iate, um bicho do mar, dizendo eufórico: “peguei mais um, pai”, enquanto o orgulhoso genitor, sem dizer qualquer palavra tipo “agora chega, né, filho?”, ia colocando numa espécie de aquário exposto ao sol, mais entulhado com bichos que nossas penitenciárias com humanos, tudo que o filho trazia. Assim foram inúmeras estrelas-do-mar, pepinos-do-mar, moluscos e vários outros tipos de invertebrados marinhos, tirados do mar simplesmente para morrer naquele aquário.
A partir daquele dia concluí ser o iatista que, em tese, situa-se na outra ponta social em relação ao farofeiro, tão ou mais danoso ao meio ambiente que este. Os farofeiros foram discriminados pelo prefeito não porque podem sujar a praia ou um costão, coisa que uma simples campanha de conscientização e fiscalização resolve, mas sim porque podem não trazer maiores recursos ao município. A sujeira nas praias foi só uma desculpa esfarrapada. Para ele, pessoas de qualidade são as que têm dinheiro, o resto é escória social.
Iatistas, aqui neste artigo representando, simbolicamente, o “turismo de qualidade” do prefeito, causam muito mais impactos ambientais que o farofeiro: em alta velocidade, seus barcos atropelam e matam animais mais lentos, como tartarugas marinhas e mesmo animais terrestres que cruzam a nado trechos de enseadas, canais e baías. Há ainda os sons e vibrações aquáticas que prejudicam a fauna marinha, as marinas que ocupam áreas de preservação permanente, os molhes de barras de rios para acessar marinas que causam permanentes alterações ambientais e destroem muitas das mais belas paisagens estuarinas, isso sem contar com a chance de contaminação por possível vazamento de óleo e combustível, plásticos e outros lixos que possam cair acidentalmente dos barcos na água, quando não jogados de fato por alguns iatistas no mar, tal como fazem alguns farofeiros na praia.
Inclusão com orientação e respeito ao farofeiro, sim, exclusão elitista, jamais, sr. Prefeito.
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