Depois de visitarmos o santuário e reserva natural do Caraça em Minas Gerais (Santa, 9 de junho), aproveitamos para visitar a região afetada pela tragédia da lama da Samarco. Foi como ir do paraíso ao inferno.
Continua depois da publicidade
O desmonte de montanhas inteiras e alguns gigantescos depósitos de rejeitos de mineração impressiona, quase estarrece. Numa das represas, se houvesse sólido concreto no lugar do mar de lama, ali poderiam pousar os maiores aviões do mundo, naquela imensidão de mais de 2,5 km de extensão. Dá um arrepio saber que foi bem ali, colada à esta barragem, que rompeu a barragem de Fundão a qual, mesmo com metade do tamanho, causou a maior tragédia ambiental da história do Brasil.
Depois de visitarmos o povoado de Paracatu de Baixo, uns 70 km abaixo da barragem rompida, fomos a Bento Rodrigues, o povoado mais próximo e mais violentamente afetado pela tragédia, mediante prévia autorização e acompanhamento de elemento da Defesa Civil de Mariana. Em ambos (ex-)povoados, exatos sete meses depois, nem as chuvas do período conseguiram sequer lavar a lama endurecida que permanece, espessa e teimosa, sobre o que restou das paredes das inúmeras casas destruídas.
Foi triste ver dinheiro mal empregado em algumas obras questionáveis, sentir que havia uma certa sensação de não saber bem o que fazer por parte de alguns técnicos que trabalhavam, perceber a falta de “diálogo” do homem com a natureza ao insistir em ignorar aspectos da dinâmica hidrológica em busca de um novo equilíbrio no pós-tragédia.
Foi desolador ver milhares de pertences deixados para trás e em seguida inutilizados pela lama e pior, constatar que as poucas edificações não atingidas pela tragédia tiveram janelas e portas, enfim, tudo que podia ter valor, arrancado, roubado. Quem escapou da lama não escapou dos saqueadores. Enfim, o desastre de Mariana não deixa de ser um reflexo da tragédia que é o despreparo, as trapalhadas e a falta de responsabilidade tanto da iniciativa privada quanto do poder público para prevenir e enfrentar situações como essa.
Continua depois da publicidade
Uma chuvarada nos permitiu observar o quão lamacento ainda está o rio Gualacho, formador do rio Doce e o mais afetado pelo desastre. Mas pasmem, leitores, o rio de lá não é tão mais lamacento que muitos dos rios de nossa região, o que indica que por aqui também temos tragédia, só que não “explosiva” como lá. A lama dos rios daqui aponta para a lenta, porém insidiosa tragédia da violenta erosão urbana e rural que insiste em corroer, sob os olhares indolentes de autoridades, os férteis solos de nossos vales.