Altitudes acima de 1,6 mil metros mal cobrem um milésimo da superfície estadual, com contribuição praticamente nula para a economia. No entanto, o valor ambiental dessas áreas é inestimável, dadas as peculiaridades da topografia, geologia, solos, clima, paisagem, hidrologia e ecologia. Raridades da fauna, da flora, da micota (fungos) e abrigo de espécies ameaçadas são consequência de ambientes únicos dessas alturas meridionais onde o mosaico verde é formado por campos de altitude, turfeiras, afloramentos rochosos ajardinados de musgos, líquens e inúmeras ervas, matas nebulares e capões de florestas com Araucárias. Um lugar muito especial, dentro dos 8% que restou de Floresta Atlântica no país.
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Apesar da óbvia vocação para a conservação, o governo não considerou as terras acima da cota 1,6 mil metros de altitude como de preservação permanente, optando apenas pelas altitudes acima dos 1,8 mil metros, ou seja, ridículos 0,000005% do território estadual, critério nada técnico, mas tendencioso, como veremos a seguir.
Acima dos 1,8 mil metros existem apenas três pontos no Estado: os morros da Boa Vista (1.827m), do Bela Vista (1.823,5m) e o já famoso Morro da Igreja, com 1.822 metros, locais de nascentes de três grandes bacias hidrográficas estaduais, dos rios Itajaí, Tubarão e Canoas. As visitas ao Morro da Igreja têm impulsionado o turismo, fazendo do Parque Nacional de São Joaquim, em Urubici, o quinto mais visitado do Brasil, respondendo por grande parte da ocupação de hotéis e pousadas na região. Quanto aos outros morros, os próprios nomes, Boa Vista e Bela Vista, já evidenciam sua espetacular vocação para o turismo de áreas abertas.
Não há, portanto, melhor proposta de uso da região do que o projeto de criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, pronto para ser assinado, com cerca de 60 mil hectares englobando as partes mais belas de oito municípios, garantindo-se assim a preservação paisagística, ecológica e turística da mais espetacular feição geomorfológica do Brasil, a região dos Aparados da Serra.
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O impensável, no entanto, está acontecendo. Justo no teto de Santa Catarina, está se propondo a instalação de 274 monstruosas torres aerogeradoras de energia, o que, em termos ecológicos, paisagísticos e turísticos, equivale a acabar com as Cataratas do Iguaçu para produção de energia hidroelétrica e isso a sociedade não pode aceitar de jeito nenhum. Que me desculpem os empreendedores, mas megawatt nenhum justificará o impacto ambiental naquela região. Nossa fome de energia é real, mas não pode ser assassina.