A linha de ônibus que eu uso no Jordão é do tipo circular, parte do terminal e a ele retorna. Outro dia embarquei num coletivo vazio, ou seja, fui o primeiro passageiro em quase três quilômetros rodados no retorno de uma linha em que o normal, fora dos horários de pico, mal passa de meia dúzia de passageiros transportados, metade deles idosos que não pagam passagem.

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Rodar com ônibus vazios em determinados trajetos e horários é prejuízo na certa não apenas para o dono do negócio, mas também para o passageiro, de cujo bolso sairá o equilíbrio de um acréscimo na planilha de custos do transporte. Do ponto de vista do passageiro, o que seria mais importante: horários frequentes ou pontualidade? Já perdi ônibus num dia em que o motorista devia estar querendo tirar sua mãe da forca e, apesar de eu ter chegado ao ponto quase cinco minutos antes do horário, o coletivo já tinha passado. Também já fiquei plantado no ponto um bom tempo, por que um outro motorista, pelo contrário, deveria estar imaginando-se não num ônibus, mas na condução uma gôndola singrando mansamente os canais de Veneza.

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Vivi três meses no Japão e passei uns dias na cidade científica de Tsukuba onde, para um bairro pouco populoso, só havia coletivo a cada 75 minutos. Mas todos podiam chegar ao ponto somente no último minuto que jamais perdiam o ônibus e nem ficavam lá plantados um tempão aguardando. O mesmo ocorria na gigantesca Tóquio, onde ônibus complementam a impressionante rede de metrôs. Quando se pode contar com a pontualidade é possível saber, antes de sair de casa ou do trabalho, se daria tempo para concluir mais uma tarefa, dar mais um telefonema, escovar os dentes com calma, conversar um pouco mais com amigos ou fazer qualquer outra coisa, pois, quando o horário é cumprido, dá para programar tranquilamente a hora de sair para pegar o ônibus.

Respeito quem pensa diferente, mas não me incomodaria de, no meu bairro, ter menos frequência de horários de ônibus, desde que houvesse pontualidade em sua passagem. Horários dependem de relógios e não do humor do momento do motorista. Não tem como comparar a linha de um bairro pouco populoso com uma linha troncal, por exemplo. Enquanto esta deve ter intervalos de partidas de no máximo poucos minutos, aquela pode, tranquilamente, ter intervalos de até algumas horas entre um horário e outro. Fica, portanto, a sugestão de incluir o item de (rigoroso) cumprimento de horários, levando em conta o trânsito, na próxima licitação do transporte público de passageiros de Blumenau.

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