Parece que 2014 será marcado como o ano do início da conscientização, de fato, sobre a necessidade de conservação da água. Cientistas e ambientalistas já alertavam há muitas décadas e ninguém dava bola, até todos se assustarem com as impressionantes imagens dos reservatórios quase secos da grande São Paulo, nossa maior metrópole. Diz o velho ditado que muitos só se mexem quando a água bate na bunda. No atual quadro, ao contrário, é a água que está sumindo de sob nossos pés.

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A temporada de chuvas chegou para São Paulo, mas, está longe de aliviar o problema. Se aliviar, será um remédio com graves sequelas de inundações e alagamentos. Pior ainda, bilhões de litros que caem, a cada chuva, sobre a gigantesca capa de telhados, concreto e asfalto, nem se infiltram no solo. Escoam rapidamente para o rio Tietê, de onde são perdidos para a grande São Paulo, inutilizados por uma poluição que também já deveria ter sido tratada há muitas décadas.

A imprensa brasileira está fazendo sua parte, divulgando amplamente o assunto. Não obstante, essa mesma imprensa, retratando nossa cultura divorciada da natureza, deixa de abordar questões fundamentais. Por exemplo, Veja, a maior revista de divulgação do país, dedicou várias matérias sobre a questão da água. Numa delas, procurei, em meio a 20 páginas úteis sobre o tema e não achei uma linha sequer sobre a importância das ações sintonizadas com a preservação ambiental – zero, nada, “neca”! Enfatiza medidas estruturais, de controle, de eficiência de sistemas, reuso, etc., e quase nada sobre a importância das florestas na proteção de nascentes e mananciais, zonas de recarga de aquíferos e da água do solo.

Um abismo nos separa de uma gestão eficiente como a do Japão, que constrói reservatórios gigantescos, porém, sem menosprezar o controle da erosão que causa assoreamentos e a proteção das florestas com seu efeito de esponja, que armazena grande parte das águas das chuvas no solo, abastecendo as nascentes mais adiante. Com gestão eficiente da ocupação dos espaços urbanos e rurais, dialogando com a natureza, com proteção de florestas, banhados e baixadas, problemas como os de São Paulo já seriam amenizados, no mínimo, em 30%.

Resolver o caos hidrológico de São Paulo não vai ser fácil nem barato, mas por aqui ainda há tempo de corrigir erros crassos, antes que as coisas piorem. Ou será que permitiremos, passivos, processos como o atual estupro imobiliário do litoral catarinense, até que a água suma de sob nossos pés?

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