Quando jovem, num fim de semana que passei na casa do meu irmão mais velho já casado, estranhei a quantidade de mosquitos que ali havia, justo numa área bem urbanizada na época, comparado com a casa de meus pais mais abaixo na Rua Amazonas, junto a uma grande baixada onde o que mais havia era brejo e águas paradas. A lógica inverteu-se na minha cabeça de estudante de História Natural (hoje Biologia) na Furb. Como numa área repleta de águas paradas tinha muito menos mosquitos do que numa área seca e bem drenada?

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Vários anos mais tarde, implantando o Parque Ecológico Artex no alto Garcia, construí ou reformei várias lagoas para propiciar ambientes naturais úmidos para a fauna e flora. Em todas elas, cerca de duas semanas após o represamento das águas, surgiram assustadoras “nuvens” formadas por milhões de larvas de mosquitos. Putz!, fiz caca, pensei. Mas, com o passar do tempo, não mais que poucos meses, as larvas de mosquito sumiram de todas as lagoas. Por quê?

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Colado à minha casa, fiz um mini lago “natural” de uns 50 metros quadrados de área, com fundo de terra, onde introduzi plantas aquáticas e peixes barrigudinhos. Certo dia recebi a visita da vigilância sanitária que examinou detidamente a água do lago, colheu amostras com redinhas etc e não encontraram, naquela água parada, nenhuma larva de mosquito sequer. Por quê?

A resposta é simples: com o passar do tempo, em geral poucas semanas, essas águas começam a ser colonizadas por um sem número de espécies de larvas de libélulas, besouros e outros insetos aquáticos, girinos de anfíbios, microcrustáceos do grupo dos Copépodes, planárias, sanguessugas, minúsculas hidras de água doce, enfim, uma infinidade de seres predadores de larvas de mosquitos. Peixes barrigudinhos, por exemplo, são vorazes devoradores das mesmas. Seus filhotes recém-nascidos são do tamanho das larvas dos mosquitos e predam larvas bem jovens e menores até onde existe apenas um milímetro de água.

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Existem centenas de estudos sobre predadores naturais de mosquitos como o esperto Aedes aegypti, que hoje tanto nos apavora e que podem ser facilmente criados em laboratório e introduzidos em lugares preferidos para a reprodução do Aedes, mas que ficam difíceis de serem eliminados nas campanhas de remoção de lixo e entulhos. Recomendo, por exemplo, o trabalho “O Uso de predadores no controle biológico de mosquitos, com destaque ao Aedes” dos pesquisadores C. F. S. Andrade e L. U. dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas. Bem elucidativo.