O protesto dos pescadores que bloqueou o canal de acesso aos portos de Itajaí e Navegantes, na semana passada, nos impele a refletir sobre a realidade pesqueira do Brasil e alguns desatinos sobre o assunto, perpetrados a partir de Brasília.
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O mar territorial brasileiro, naturalmente, não é dos mais produtivos, logo, não tem como o Brasil, apesar do gigantismo de seu litoral, ser um expoente produtor de pescado. Quando o governo anuncia estímulos para adoção de tecnologia avançada para a pesca, devemos nos perguntar: de que adianta toda uma tecnologia se ela não vier acompanhada de medidas eficazes de conservação do potencial pesqueiro?
A cada ano que passa o esforço de pesca aumenta para a captura da mesma tonelagem de pescado. Em outras palavras: navega-se cada vez mais longe e gasta-se cada vez mais tempo e combustível para se obter aquilo que antes se fazia com muito menor esforço e dinheiro. Por outro lado, são inquestionáveis os dados de diminuição do estoque pesqueiro de diversas espécies no Brasil e em boa parte do mundo. No Brasil, isso vale tanto para a pesca marinha quanto para a fluvial, Amazônia inclusive.
Há 50 anos a pesca resumia-se basicamente às plataformas continentais da maioria dos países litorâneos. O resto dos oceanos estava praticamente livre deste predador-depredador voraz e inconsequente que é o ser humano. Num instante (quem conhece um pouco a dinâmica da natureza sabe que décadas não passam de instantes), o (de)predador tomou conta da totalidade da superfície de todos os mares e águas do mundo. Como esse “ataque” é recente, o pior, se não se pensar seriamente em conservação, ainda pode estar por vir.
O Ministério da Pesca precisa dialogar mais com o Ministério do Meio Ambiente. Não se protege o pescador sem proteger o pescado. Se o Brasil matar sua galinha pesqueira, ficará sem os dois, nem galinha nem ovos. A produção de pescado não pode se resumir ao uso de tecnologias de produção e armazenamento. Passa obrigatoriamente pela ampliação e criação criteriosa de mais reservas (unidades de conservação) marinhas, com proteção mais eficiente de santuários e berçários, como mangues, recifes de coral, estuários e restingas, controle da poluição, períodos de defeso e até mesmo controle da atual violenta ocupação imobiliária de nosso litoral, bem como da poluição dos rios e da distante erosão terrestre.
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Afinal, quem garante que a intensa erosão agrícola que ainda ocorre no Alto Vale do Itajaí não vá prejudicar a produtividade pesqueira em vasta região da foz desse mesmo Itajaí?