As três notas da Daniela Matthes na coluna do Pancho e duas páginas seguintes (Santa, 24 e 25 de janeiro), são o tipo de matéria que me deixa inquieto e com sensação de total impotência, me sentindo qual médico diante de paciente que recusa o tratamento, apesar da gravíssima doença.

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O ser humano é muito estranho. Na ponta do lápis, o aquecimento global é um problema que afeta a todos, 7,3 bilhões de pessoas, além, obviamente, de milhares de outras espécies de seres vivos, cuja difícil sobrevivência está aí, à mercê das insanidades humanas. Era para estar todo mundo apavorado, exigindo providências drásticas de todos os governos. No entanto, o drama de uma única pessoa causa comoção maior que as desditas que afetam, gravemente, muitas das demais sete bilhões.

Nossas paixões e interesses midiáticos são movidos pelo drama da existência humana explícita, caso dos brasileiros condenados na Indonésia, por exemplo, e a imprensa explora muito bem essas questões. Isso ajuda a entender por que o drama de uma única pessoa mexe com mais corações do que o drama de toda uma humanidade que põe fogo na própria casa (planeta) de onde não tem como sair. Como a Daniela anotou, os ponteiros do Pêndulo do Apocalipse, ou Relógio do Juízo Final, conforme os cientistas, apontam para as 23:57 horas. Ou seja, se não dermos uma rápida guinada de 180 graus (90 graus já seria quase que para ontem!), chegaremos ao fim do que se possa chamar de planeta confortavelmente habitável.

O aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas são apenas alguns sintomas mais palpáveis do que já está acontecendo. Os limites planetários estão sendo estourados em diversas outras áreas. As espécies ameaçadas de extinção pela ação humana chegam às milhares, florestas continuam desaparecendo, secas avançando e os mares morrendo. Como ecólogo e estudioso do Meio Ambiente, não me conformo que entre cada vez mais lenha na fogueira do desequilíbrio ecológico, atitudes de uma humanidade socialmente suicida, que recusa o tratamento.

Não adianta tapar o sol com a peneira. Todos devem se conscientizar do que está acontecendo. Na matéria mencionada do Santa, há infográficos e imagens que, bem analisadas, são de arrepiar os cabelos, só por conta do aquecimento global, um dos tantos problemas que estamos causando ao planeta e a nós mesmos. Não podemos continuar dirigindo a espaçonave Terra desse jeito, como motoristas embriagados. Que intercepte urgente o guarda de trânsito, antes que aconteça um telúrico e irreversível acidente!

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