Sou um dos felizardos que recebe semanalmente uma seleção de recortes de jornal sobre meio ambiente, viagens, ciência e afins. Álvaro Correia, brilhante ex-deputado estadual, é quem faz essa espécie de democratização da informação muito útil para mim e para diversos outros profissionais.
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A Folha de São Paulo (20 de janeiro), por exemplo, traz excelente matéria sobre o perigo de extinção de nada menos que 60% das espécies de primatas atualmente existentes no mundo. Ao grupo dos primatas pertencem os grandes e pequenos macacos, lêmures e afins, do gorila africano ao sagui sul-americano. O principal motivo? A devastadora ação de outro primata, um grande macaco nu, quase sem pelos, bípede, terrestre e sem rabo que, longe de estar ameaçado, constitui a maior ameaça para a maioria dos seus primos-irmãos geralmente mais peludos, com ou sem rabo.
Diz a matéria ainda que aqui no Brasil, campeão em número de espécies de primatas, só 30% das espécies estão ameaçadas, um “só” que parece soar mais como deboche, já que isso significa que um terço das nossas espécies estão ameaçadas, por nossa culpa e dolo ainda por cima. Mesmo comparando com as situações da Indonésia, com 70% das espécies ameaçadas e de Madagascar, com quase 90% dos lêmures ameaçados, uma tragédia ecológica sem precedentes, não há como concordar com esse “só” para uma situação em que NENHUMA espécie deveria estar ameaçada.
O desmatamento, a expansão questionável da agricultura e o avanço avassalador e desnecessário da pecuária estão entre as principais causas da ameaça a esses nossos primos-irmãos no mundo e claro, também aqui no gigante que fica deitado eternamente em berço esplêndido enquanto lhe roemos sordidamente as entranhas. A caça descontrolada, literalmente, dá o tiro de misericórdia na chance de sobrevivência dos primatas e de tantos outros animais da fauna nativa, inclusive na terra onde nossos risonhos lindos campos tinham mais flores e nossos bosques tinham mais vida.
Como tragédia pouca é bobagem, a mesma Folha, no dia anterior (19 de janeiro), relata a comprovação científica de que o efeito estufa deita e rola ameaçando humanos e animais junto a seus ecossistemas, enquanto nos Estados Unidos o Donald Trampão diz que tudo isso é mentira e em Brasília o catarinense Valdir Collapso, de notório histórico de atuação antiambiental, agora vem com mais uma, defendendo a volta da prática da caça no Brasil, como se tivéssemos fauna nativa sobrando a dar com os pés no pouco que restou de nossas depauperadas florestas.
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