A pequena Urupema pode em breve não ficar famosa apenas por ser a cidade mais fria do Brasil. Seu turismo também poderá ser alavancado com o espetáculo da revoada migratória de milhares de papagaios-charão que, vindos das gaúchas Carazinho, Caçapava do Sul e Salto do Jacuí, pousam em grandes bandos na região à procura do seu alimento predileto, o pinhão.

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Nos anos 80 os papagaios-charão sumiram de áreas devastadas do Rio Grande do Sul e, de repente, reapareceram em Painel, Urupema e arredores, em Santa Catarina. A Estação Ecológica de Aracuri-Esmeralda, no Norte gaúcho, com 277 hectares, quase que isolada pela destruição irracional das florestas em seu redor para uso agrícola, não tem sido suficiente para garantir o sustento da espécie, que descobriu no nosso estado uma alternativa de sobrevivência. Por que isso aconteceu? A resposta está na proibição do corte da Floresta Atlântica, da qual as florestas com araucárias fazem parte.

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Com o passar dos anos, a qualidade das florestas melhorou. Os papagaios, descobrindo isso, conseguiram sobreviver, para a sorte deles e do ecoturismo na região. Eu mesmo, junto com um grupo de excursão da Acaprena e de estudantes canadenses nos extasiamos, ano passado, com o espetáculo da revoada, não do charão, mas do papagaio-da-cara-roxa, que todas as noites chegam para dormir aos milhares na pequena Ilha do Papagaio, na baía de Paranaguá, no Paraná. Turismo ecológico na mosca.

O papagaio-charão e seus primos sulinos, o de-cara-roxa e o de peito roxo, estão ameaçados de extinção. As populações de milhões de indivíduos dessas espécies foram drasticamente reduzidas e agora começam a dar sinais de recuperação, graças à criação de Unidades de Conservação (reservas naturais) do governo e de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (as RPPN), campanhas educativas contra a captura de filhotes e contra o comércio ilegal de aves. O charão e o peito-roxo contam ainda com o Projeto Charão, da Universidade de Passo Fundo (RS), que tem feito pesquisas de identificação de rotas migratórias e campanhas educativas de excelentes resultados.

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Não faz muito tempo, imperava o barbarismo ecológico em que papagaio bom era papagaio na gaiola, baleia boa era baleia retalhada nas armações litorâneas e onça boa era onça morta para não atacar o gado. Hoje, bicho bom é bicho vivo, preservado nos seus ecossistemas, alavancando a economia por meio do turismo de observação de baleias e de aves e de safáris fotográficos de raridades da fauna brasileira. Que continue assim. Que Urupema ganhe com isso.