Moradores antigos comentavam que o rio Garcia em Blumenau era capaz de varrer baixadas do vale em muitos pontos “de morro a morro”, com violenta e destruidora torrente da água. Meu pai me contou essa história, que ele ouviu ainda adolescente do seu avô e meu bisavô, Antônio Zendron (1854-1939).

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Há 36 anos, sob a manchete “Devastação no Garcia poderá trazer sérias consequências” (Santa, 5 e 6 de agosto de 1979), o empresário e defensor da natureza Udo Schadrack publicou o contundente artigo “Alarma”, em que se referia ao perigo do desmatamento nas encostas e cabeceiras do Garcia, “naquelas terras áridas e muito acidentadas, que não se prestam para a lavoura e nem tampouco para a URBANIZAÇÃO” (grifo meu), alertando ainda que “uma catástrofe pode eclodir a qualquer momento na região, como a de Tubarão em 1974”.

No artigo “Considerações sobre a Geografia e Preservação da Região da Nova Rússia”, de 1982, enriquecido com croquis geológicos didáticos e esclarecedores, publicado na então revista “Consciência”, da Acaprena, o então formando em Geologia Cláudio Borba alertava para os perigos do desmatamento e ocupação inadequada da região. Isso numa época em que ainda não se falava em mudanças climáticas. Imagine-se hoje, em que elas estão em pleno curso, chovendo na região acima da média histórica desde 2008, sem exceção.

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Eu já perdi a conta das manifestações públicas, palestras e documentos entregues às autoridades já feitas, além de artigos que escrevi aqui mesmo neste espaço, sobre os perigos da ocupação desordenada e necessidade de ordenamento na região da Nova Rússia. Diversos ex-presidentes da Acaprena fizeram o mesmo, inclusive com pedidos de ações na justiça para impedir loteamentos inadequados e obras insensatas que o município pretendia perpetrar ou autorizar na região. O geólogo Dr. Juarez Aumond, a saudosa Dra. Lúcia Sevegnani e tantos outros têm se manifestado inúmeras vezes na imprensa, com alerta às autoridades sobre o assunto.

A gigantesca barreira que destruiu várias casas e fez mudar violentamente o curso do Garcia no início da Nova Rússia, portanto, é apenas mais um sinal de tragédia claramente anunciada, porém, ignorada. Felizmente, ainda há tempo de a prefeitura tomar providências concretas e drásticas se necessário, para evitar que a coisa piore ainda mais. Começando agora, por não interferir apressadamente com máquinas no trabalho do rio em seu novo curso, aguardando antes, prudentemente, que ele readquira seu novo perfil de equilíbrio, que ainda não sabemos qual será.

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