Por Lauro Bacca, ambientalista e presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena)
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O serviço de inteligência foi rápido e detectou a tempo os primeiros sinais de movimentos suspeitos do inimigo. Dado o imediato alerta, o povo inteiro se preparou duramente, durante muito tempo, para enfrentar a ameaça que se avizinhava, com certeza cada vez maior.
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Um certo medo do desconhecido era também acompanhado da firme sensação de que estavam no caminho certo, adotando estratégias e medidas necessárias para se defender do inimigo e garantirem sua autonomia, liberdade e qualidade de vida, enfim, defenderem seu futuro.
Justo quando o ataque estava prestes a acontecer o rei, seus ministros e conselheiros resolveram afrouxar a guarda, abrindo mão do meticuloso planejamento de defesa, permitindo, com isso, o suicida e inexorável avanço do inimigo, jogando ao povo o terror dos dias piores que estavam por vir.
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Tudo para atender alguns influentes na comunidade que reclamavam que seus negócios estavam indo mal devido aos preparativos para a guerra.
Pois bem, cara leitora, caro leitor.
Essa ficção pode ser singela demais, reconheço.
Troquemos, porém, o “povo” pela população brasileira, com destaque especial a catarinense; o “inimigo” pelas mudanças climáticas, desmatamento, perda da biodiversidade, eventos meteorológicos cada vez mais frequentes e devastadores; os preparativos para enfrentar o inimigo pela arcabouço legal ambiental construído ao longo de décadas; o rei, seus ministros e conselheiros pelas autoridades constituídas e os influentes na comunidade pelos interesses setoriais que não enxergam, ou não querem enxergar o interesse maior de todos e esse cenário se transforma na mais verdadeira, atual e cruel realidade.
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Há décadas a Ciência alerta para o aumento gradual da temperatura do planeta. Todos sabem que devemos nos adaptar e deixar de impactar o meio ambiente. Claro que isso tem preço e alguns podem ser mais prejudicados que outros. No entanto, como em tudo na vida em sociedade, há que se prevalecer o interesse de todos e não de apenas alguns, incluindo os interesses dos que mal nasceram ou dos que ainda vão nascer, herdando esse mundo que vamos deixar para eles.
O afrouxamento das defesas acontece com o passar das inúmeras boiadas do governo federal e com a atuação de uma bancada catarinense que, de costas para o século 21, revela-se inimiga do meio ambiente e do bem geral da maioria. Acontece aqui no estado com a revisão do código ambiental de SC.
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A Assembleia Legislativa de SC não pode simplesmente derrubar as “defesas contra o inimigo” que a legislação conquistou para Santa Catarina. O desenvolvimento moderno só tem sentido dentro da busca da imperiosa harmonia do tripé social, econômico e ambiental.
Há sólidas evidências de que a Alesc, na discussão do projeto de lei de revisão do Código Ambiental de SC, está enfraquecendo o pé ambiental, esquecendo que, em assim fazendo, o pé ambiental quebra e o tripé cai, levando junto o social e o econômico.