Todo estudante deveria saber que cada milímetro de chuva acumula um litro de água por metro quadrado. Na semana passada choveu mais de 90 litros por metro quadrado no Sul de Blumenau. Um campo de futebol que não tivesse drenagem nem escoamento acumularia nesse caso mais de 9 centímetros de altura de água. Um jogo nessas condições estaria mais para polo aquático do que para futebol.

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Temos a cultura de sempre culpar a natureza ou a fatalidade pelos danos ocorridos sob chuva forte. Grande falácia. Na verdade, a maior parte dos danos, perdas e sofrimentos, quando não mortes por ocasião de fortes eventos climáticos não tão extremos, caso da semana passada, poderiam ter sido evitados com o adequado ordenamento territorial e fiscalização eficaz das ocupações dos espaços. Tarefa para a fiscalização municipal em parceria com a Faema (que precisa recuperar-se da atuação sofrível no primeiro mandato de Napoleão) e com a diretoria de Geologia, no caso de Blumenau.

Um olhar atento na região mais atingida da cidade perceberá o assoreamento anormal de ribeirões como o Gebien, no Zendron, o Krooberger, na rua Rui Barbosa, e o ribeirão da Glória, entre outros. Os pedregulhos e entulhos depositados pela enxurrada no leito do ribeirão Gebien mal deixam um metro de altura entre o fundo do córrego e a última ponte antes da galeria, que de mal feita também foi obstruída. Perceberá também que é das inúmeras quedas de barreiras que ocorrem em locais onde jamais deveria ter sido permitida a ocupação humana que provêm grande parte do material sólido que obstrui os córregos.

Já no perfil de quase todas as margens arrancadas pela “fúria” das águas o que mais se vê são materiais de aterros recentes ou antigos sobre os leitos secundários dos ribeirões, agravando ainda mais o problema. Do macadame arrancado às toneladas das muitas ruas declivosas, onde as dispendiosas bocas de lobo e tubulações transformam-se em meros materiais decorativos, provém outra grande parte do que vai assorear os cursos d?água mais abaixo. Fatalidade ou culpa do homem?

O asfaltamento da rua Irapurú, no bairro da Glória, que dá acesso a Gaspar pela Garuva, ainda que muito bem vindo, mostra que a prefeitura ainda não aprendeu com tantos erros passados. Toneladas de solo removido foram jogados criminosamente na encosta do córrego local. Estopim de outra “fatalidade” que pode acontecer em cinco ou 40 anos. Sem contar que, salvo melhor juízo, Gaspar foi presenteada por Blumenau com 200 metros de asfalto dentro do seu território. Pode isso?

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