Perguntado sobre que atitudes cada um deveria tomar para garantir um futuro melhor para o planeta, o palestrante, prêmio Nobel de Física, no auditório da Furb na década de 1990, de pronto respondeu: “ter menos filhos e comer menos carne”. Considerando a inchada população humana atual de 7,3 bilhões de pessoas, fica fácil entender que temos que ter menos filhos, mas e o “comer menos carne”?
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Quem na escola aprendeu um pouco mais que decoreba de alguns conceitos nas aulas de Ecologia pode compreender o que o palestrante quis dizer. De uma forma muito simplificada, numa pirâmide ecológica, formada por várias e intrincadas cadeias alimentares, a energia solar possibilita a formação de matéria orgânica através da fotossíntese dos vegetais, que são comidos por animais herbívoros que servem de alimento para os carnívoros e assim por diante.
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Quando nos alimentamos de produtos agrícolas, nos posicionamos no segundo degrau da pirâmide ecológica, a dos herbívoros. Ao comermos carne tornamo-nos carnívoros, um degrau a mais, o que exige muito mais espaço para sua produção. Acontece que no Brasil, um hectare de pastagem consegue sustentar 1,38 cabeça de gado enquanto esse mesmo hectare rende, plantado, 3,57 toneladas de milho. São 9,7 kg de proteína de gado contra 635 kg de proteína do milho, que podem alimentar, respectivamente, 6,4 e 423 pessoas, diz o relatório “A Funcionalidade da Agropecuária Brasileira – 1975 a 2020” (Folha de S. Paulo, 31 de janeiro).
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Quanto ao rendimento, a pecuária perde de estrondosa goleada de 65 a 1 para a agricultura, derrota muitíssimo pior que os 7 a 1 do Brasil para a Alemanha na última copa. Para complicar, o rendimento de produção de proteína do gado bovino perde feio para o rendimento dos suínos e muito mais para os frangos.
A criação de gado de corte em pastagens, um bom negócio do ponto de vista econômico, é um péssimo negócio para o meio ambiente e para a sustentabilidade. Milhões de hectares de floresta Amazônica têm sido destruídos para o avanço do gado, que rende quase nada comparado com a agricultura, destrói a biodiversidade, contribui para o aquecimento global pelo expressivo efeito estufa dos gases CO2 e metano produzidos pelo metabolismo dos bois e pelo desmatamento para fazer pastagens.
Não é o caso de todos nos tornarmos vegetarianos estritos, mas sim de diminuir bastante as carnes na dieta, principalmente carne de boi. Agindo assim, não apenas sua saúde agradece, a saúde do planeta, o grande bem global que legaremos aos nossos filhos, também agradece.