A maior parte do extraordinário, quase estupefaciente “progresso” da humanidade nos últimos 120 anos, foi às custas de uma estarrecedora devastação ambiental, a ponto de muitos cientistas aceitarem a tese de que existe um novo período geológico, o antropoceno, tamanhas as alterações e impactos causados por nós, inconsequentes seres humanos que, como sempre digo, estão mais para Homo pseudosapiens do que para Homo sapiens.

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Muitos danos ambientais são camuflados, quase imperceptíveis. Exemplo: a lenta e insidiosa perda dos solos agrícolas devido à uma erosão que debocha da nossa (in)competência de controlá-la. Erosão que empobrece os solos, encarece a agricultura e torna nossos rios barrentos e lamacentos, onerando e até inviabilizando, às vezes, o tratamento de água nas cidades. Que também impacta os custos de manutenção de portos, como os de Itajaí e Navegantes, que frequentemente têm que ser desassoreados pelas dragas que sugam não apenas lodo, areia e detritos, mas também muitos milhões de reais de recursos.

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A ação humana é causa de quase 100 por cento da erosão tanto rural quanto urbana atualmente. Além dos vultosos prejuízos advindos dos deslizamentos e quedas de barreiras, o material erodido acaba assoreando também rios e córregos, diminuindo as capacidades de vazão e agravando os efeitos das cheias causadoras de incalculáveis prejuízos a toda sociedade, além de prejudicar o setor pesqueiro em função da perda da produtividade marinha.

Para não resolver, mas remediar o problema, vultosos recursos são “desviados” para o desassoreamento desses mesmos rios e demais cursos d’água. Obras que por sua vez impactam terrivelmente o ambiente fluvial, contribuindo ainda mais, não bastasse a poluição das águas e falta de mata ciliar, para os desequilíbrios ecológicos que prejudicam a sadia qualidade de vida humana, gerando aqui outro rol de prejuízos.

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Enfim, um filme de terror sem fim, até que tenhamos a sabedoria e o discernimento de uma visão mais holística e sistêmica, sabendo cuidar melhor de nosso meio ambiente. Até lá, a erosão dos recursos públicos continuará fazendo falta em inúmeras obras e serviços tão fundamentais da sociedade, como educação, saúde e segurança.

Exemplo paroquial do preço dos descasos ambientais que toda a sociedade paga está na sincera e transparente declaração do Secretário de Serviços Urbanos de Blumenau, Rafael Jansen (Santa, 11 de janeiro): “o custo de uma chuva de uma hora é o orçamento de dois meses da secretaria. Sai caro esse trabalho”.