Por Lauro Bacca, naturalista e ambientalista
Sempre que ouço dizer que não tem mais jeito, de tão ruim que está a proteção ambiental, respondo que concordo, mas, ao mesmo tempo, existem motivos para esperanças. Costumo citar dois exemplos, de tantos que são postados todos os dias na internet.
Continua depois da publicidade
Cena número 1: uma balsa cheia de veículos interrompe a travessia de um rio amazônico para esperar que um macaco, deslocando-se pelo cabo de aço aéreo que serve de guia para a balsa, atinja a segurança da margem oposta.
Cena 2: uma cobra sucuri começa a lenta travessia de uma movimentada rodovia duplicada, em Rondônia. Alguém interrompe o trânsito e todos aguardam o lento réptil chegar até a mureta central, galgá-la e descer do outro lado, onde já tem outro alguém segurando o trânsito das pistas opostas, até que o colossal ofídio suma no matagal junto àquela via.
Ao final todos aplaudem felizes e o trânsito flui normalmente.
Continua depois da publicidade
> Dia do Meio Ambiente: Como SC enfrenta o desmatamento e avança na proteção
> Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica aponta os dez municípios com mais desmatamento em SC
Há 43 anos participei de uma viagem de estudos de qualidade das águas percorrendo 2.400 quilômetros entre Cuiabá e Manaus. No ainda trecho de terra entre Cuiabá e Porto Velho uma cotia atravessou a estrada e o motorista joga o veículo na contramão, na tentativa de atropelá-la. Quase causei um acidente de trânsito, pois, no impulso, segurei o volante, impedindo o cruel “cutiocídio”.
Quarenta anos separam esta cena que vivi das duas cenas descritas acima. Fosse há 40 anos, o pobre macaco teria levado um tiro de espingarda de alguém a bordo da balsa só para se divertir vendo o bicho alvejado cair na água, sob a risada insensível de 90% dos demais passageiros. Quarenta anos atrás, o primeiro caminhoneiro que avistasse a sucuri teria passado por cima dela, também, deleitando-se cruelmente com o “sucuricídio” por ele perpetrado.
Há uma semana, em Guaratuba, “lugar de muitos guarás” na língua indígena, encostadinho de Santa Catarina, muitas pessoas extasiavam-se com a volta, depois de muitas décadas, dessas magníficas aves cobertas de penas de intenso vermelho, quase levadas à extinção de tão perseguidas que foram no passado.
Continua depois da publicidade
Desta vez o estraga-prazer das rubro-penosas ficou por conta de alguns sem noção que, por se aproximarem demais do bando com barco a motor, provocaram a revoada forçada de milhares de guarás que avermelharam o céu, num espetáculo que rendeu cenas de encher os olhos e doer o coração pela nada ética obtenção das imagens.
Poucas horas antes de escrever essas linhas vi no Jornal do Almoço na NSC TV Blumenau uma matéria que criticou o comportamento de certas pessoas que não deixaram um elefante-marinho repousar sossegado numa praia do nosso litoral. A imprensa fazendo sua parte!
Em 40 anos cresceu vertiginosamente a consciência ambiental das pessoas e isso nos enche de esperanças. Estamos aprendendo a respeitar o direito à vida de todas as espécies nativas. Falta agora avançar no aprendizado do bom e harmonioso convívio com elas.
Autoridades, façam sua parte!
Leia também:
O que as queimadas no Pantanal podem ensinar aos catarinenses