A maioria dos 29 laudos de suspeita de tortura na Penitenciária de São Pedro de Alcântara apontou lesões nos presos provocadas em 7 e 9 de novembro. A primeira data coincide com uma suposta tentativa de motim, mas a outra não tem explicação até o momento.

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O delegado Rodolfo Serafim Cabral vai ouvir os agentes prisionais que trabalharam neste dias e o ex-diretor da unidade prisional, Carlos Alves. Ele disse que os ferimentos encontrados pelos peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) foram provocados por disparos de balas de borracha e Taser, arma que emite descargas elétricas.

As datas das lesões são consideradas cruciais para definir se houve tortura na penitenciária. O Departamento de Administração Prisional (Deap) confirmou o uso da força em 7 de novembro para controlar um princípio de rebelião. A Polícia Civil encaminhou 72 presos para fazer exame de corpo de delito e informou que o dia de surgimento dos ferimentos pode sustentar ou derruba a versão.

A Secretaria da Justiça e Cidadania, Ada de Luca, afirmou que também não tem conhecimento de qualquer situação fora da rotina em 9 de novembro e acrescentou que vai conversar sobre o assunto nesta segunda-feira. O diretor do Deap, Leandro Lima, estava em viagem. Foi deixado recado com o segurança dele, mas não houve retorno.

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Apesar da divergência nas datas, Rodolfo ressaltou que é precoce falar que houve tortura sem ouvir os funcionários da penitenciária, receber o restante dos laudos e a imagens do pátio da unidade prisional. Os 72 presos já prestaram depoimento. O inquérito policial tem prioridade e a expectativa é terminar o trabalho em 15 dias. As lesões ocorreram na semana em que Carlos voltou ao trabalho depois do assassinato da mulher, Deise Alves.

Nada de anormal em 9 de novembro, diz ex-diretor

Carlos Alves disse que em 7 de novembro foi usada a força para controlar uma tentativa de rebelião. Garantiu que a ação foi legal e baseada em técnicas de contenção. Sobre 9 de novembro, afirmou que não ocorreu nada fora do normal e aposta em auto flagelação. Ele ressaltou que o Ministério Público apareceu na cadeia uma semana depois e houve tempo para os presos armarem a situação.

O ex-diretor da penitenciária também reclamou da atuação dos direitos humanos. Lembrou que a mulher foi assassinada em 26 de outubro e até hoje não recebeu a visita de nenhuma entidade. Acrescentou que a sogra tem 68 anos, está bastante abalada e também não contou com oferta de apoio.

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