Passados 108 dias do incêndio químico que levantou a coluna de fumaça tóxica sobre São Francisco do Sul, no Litoral Norte do Estado, dois documentos do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Catarina começam a esclarecer, afinal, o que causou a reação e dá as pistas que servirão de base para o inquérito que vai apontar os responsáveis pelo acidente. Continua depois da publicidade
Com a ajuda de dois bombeiros militares, seis peritos se debruçaram sobre amostras de material, análises de laboratório, depoimentos, documentos e fotografias e produziram dois laudos – um documento mostra os problemas ambientais e outro descreve as causas da reação química.
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As conclusões que serão detalhadas pela direção do IGP e o comando do Corpo de Bombeiros comprometem a Prefeitura de São Francisco do Sul, como responsável pela fiscalização, a empresa Global Logística, dona do depósito, e todos os órgãos públicos e agentes privados que tinham papel importante na prevenção do acidente.
Os dois volumes que somam 150 páginas estão sobre a mesa da diretora do Instituto de Criminalística (IC), Sidneia Mansanari, e devem ser entregues ao diretor-geral do IPG, Rodrigo Tasso, e ao secretário estadual de Segurança Pública, César Grubba, no começo da semana que vem.
Caberá a eles chamar as autoridades que trabalharam na força-tarefa – entre eles a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros – e fazer a entrega dos documentos à Polícia Civil de São Francisco do Sul e à Polícia Federal de Joinville, responsáveis pelos inquéritos. Continua depois da publicidade
Investigação
Como na investigação da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, os laudos sobre o que provocou a fumaça e os danos ambientais em São Francisco do Sul foram unificados, evitando que possa haver contradições durante a investigação da Polícia Civil. As conclusões também permitem à Polícia Civil buscar a responsabilização de todos os envolvidos no acidente.
A coluna de fumaça que obrigou a Prefeitura de São Francisco a esvaziar parte da cidade entre a noite do dia 24 e a manhã do dia 27 de setembro chegou ao litoral de São Paulo e podia ser vista em imagens de satélite.
O fenômeno foi resultado de um incêndio químico – sem calor – que consumiu parte das 10 mil toneladas de um fertilizante à base de nitrato de amônio, carga que estava em um galpão da empresa Global Logística, às margens da BR-280, perto do Porto de São Francisco do Sul. Continua depois da publicidade
– Os laudos apontam todas as causas do acidente e envolvem todos os agentes públicos ou privados – diz a diretora do IC.
O secretário César Grubba informou, por meio de assessores, que não deve se manifestar sobre os laudos ou sobre a investigação. Ele deve falar sobre o caso apenas quando o inquérito da Polícia Civil estiver concluído e enviado à Justiça. O IGP não informou quando fará a entrega dos laudos à Polícia Civil, mas garantiu que deve realizar um ato.
Documentos e amostras analisados
Os dois laudos foram baseados em diferentes fontes de informação. A primeira parte deles foi a coleta de material no local. O fertilizante e todos os tipos de substâncias que estavam no galpão foram coletados e enviados para um laboratório da Polícia Federal em Brasília. Continua depois da publicidade
A participação da PF foi fundamental e é resultado de um pedido feito pela presidente Dilma Rousseff ainda nos dias em que havia fumaça. Os peritos também analisaram todo o ambiente junto com os bombeiros militares.
As documentações – licenças, autorizações, registros de compra e venda e especificações do fertilizante – também foram avaliadas. Do ponto de vista ambiental, foram analisadas amostras de água, de solo e da vegetação.
Resultado será encaminhado para a polícia
Os laudos serão entregues para os delegados da Polícia Federal de Joinville, Alcir Amaral Teixeira, e da Polícia Civil de São Francisco do Sul, Leandro Lopes de Almeida. Eles são os responsáveis pelos próximos passos da investigação e a conclusão dos inquéritos. Cabe aos dois, com base nos laudos e nas outras etapas da investigação, decidir sobre novos depoimentos e o indiciamento ou não dos responsáveis. Continua depois da publicidade
A PF deve levar o caso à Justiça Federal e ao Ministério Público Federal. No caso da investigação do delegado da Polícia Civil, o inquérito deve ser encaminhado à Justiça estadual em São Francisco do Sul e ao Ministério Público de Santa Catarina. Os prazos variam de 30 a 90 dias. Mas a fase mais demorada e aguardada era exatamente a produção dos laudos do IGP.
O que diz a Prefeitura de São Francisco do Sul
A Prefeitura de São Francisco do Sul deve se manifestar oficialmente somente quando a assessoria jurídica do município tiver acesso aos laudos.
O que diz a Global Logística
A reportagem do “A Notícia” tentou contato com os dois sócios da Global Logística, Claudio dos Santos e Nelson Possamai, e com os advogados da empresa, Álvaro Cauduro de Oliveira e Paulo Teixeira Morinigo, mas nenhum deles foi localizado para falar sobre os laudos. Continua depois da publicidade